“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

domingo, 6 de outubro de 2013

Até que enfim!

      A Festa do Cinema Francês, a decorrer este ano na sua 14ª edição entre 10 e 20 de Outubro em Lisboa, mas com extensão a outras cidades, é uma iniciativa muito importante do Institut Français du Portugal que nos tem permitido anualmente contactar com uma parte muito significativa de uma cinematografia europeia muito importante, entre clássicos, inéditos e ante-estreias em Portugal. Graças a ela temos podido colmatar, até certo ponto, as omissões de uma distribuição comercial mais interessada no sucesso fácil do que no melhor do cinema. 
                     Cena do documentário Shoah. (Divulgação).
     A edição deste ano é especiamente interessante, com filmes antigos e recentes, mas nela devo chamar a atenção para a retrospectiva quase completa de Claude Lanzmann, um documentarista que se tem dedicado ao Holocausto nazi, às suas causas e consequências, numa obra muito importante e, salvo "Shoah" (1985), desconhecida em Portugal. Programados para a Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, os filmes de Claude Lanzmann, incluindo a ante-estreia de "O Último dos Injustos"/"Le dernier des injustes" (2013), o seu último filme, são um acontecimento absolutamente imperdível (ver programação em www.festadocinemafrances.com).
      Os filmes de Claude Lanzmann, num primeiro volume da sua obra agora também objecto de edição dvd pela Midas Filmes, são uma peça fundamental quer do documentarismo cinematográfico, quer da nossa memória colectiva do Século XX, pois tratam de maneira exemplar do acontecimento mais marcante do século passado que, por si mesmo, fez mudar de rumo a história mundial e a história do pensamento, da filosofia. Escreveu alguém que a poesia deixou de ser possível depois de Auschwitz, ao que outrém respondeu que foi com Auschwitz que a poesia verdadeiramente começou, quer dizer, passou a ser indispensável por não poder ignorá-lo no seu horrífico significado e em toda a sua terrível extensão. 
                   
    Não podíamos antes, e muito menos poderemos depois da passagem destes filmes em Portugal alegar desconhecimento, já que agora nem sequer temos a desculpa de que os filmes não nos chegaram. Perante eles e aquilo que relatam e mostram não podemos permanecer indiferentes, tanto mais quanto a questão cinematográfica fundamental que eles tratam é a da representação do irrepresentável, o que, só por si, os torna parte indispensável e destacada da História do Cinema.
     Devo mesmo dizer que a obra de Claude Lanzmann, que sendo muito importante não é muito extensa, embora seja composta por alguns filmes muito longos, tem sido pretexto para uma importante bibliografia, em especial francesa, sobre o Holocausto, a Ocupação e a II Guerra Mundial, para a qual, depois de terem visto os seus filmes, obviamente vos remeto. Mas quero aproveitar esta ocasião para felicitar a Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema por se ter associado a esta importante iniciativa, mostrando assim, de forma inequívoca, que sob a sábia direcção de Maria João Seixas continua a ser a instituição de referência do cinema em Portugal a que nos habituámos, com uma programação e programadores de elevada craveira, uma instituição ao lado da qual continuo a estar incondicionalmente.

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