“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O sopro das origens

        Como prelúdio aos concertos da violoncelista marcados para hoje, 24, e Domingo, 26 de Outubro, foram ontem apresentados no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian dois filmes sobre Sonia Wieder-Atherton. Tratar-se-ia de um acontecimento promocional banal não se dera o caso de ambos os filmes serem realizados por Chantal Akerman (ver "Obsessões", de 27 de Fevereiro de 2012).   
      O primeiro, "Avec Sonia Wieder-Atherton" (2003), começa por mostrar a artista a falar sobre a história da sua ligação à música e sobre a sua arte, para depois a apresentar na execução de peças célebres, sozinha ou acompanhada. O que distingue este filme é a realizadora interpor entre os executantes e a sua câmara uma parede com aberturas rectangulares, através das quais eles são vistos enquanto tocam. Com a câmara em movimento, este dispositivo simples confere uma densidade especial ao espaço e permite descobrir melhor em filme quem toca e o que é tocado.                                  
                


      O segundo, "Trois Strophes sur le nom de Sacher" de Henri Dutileux (1989), encena o fundo do espaço onde a violoncelista, com rosto concentrado, grave, toca a solo. No fundo do cenário abrem-se duas janelas atrás das quais é visível uma representação com três personagens, um homem e duas mulheres que, porém, como num filme mudo não se ouvem. Mais uma ideia perfeita de uma cineasta superior, que sem distrair da música a capta em toda a sua originalidade e dramatismo.
       Nestes dois filmes a música, através de uma grande executante, e o cinema, através de uma grande cineasta, juntam-se para grandes momentos de cinema e de música, de uma forma que é raro acontecer. De facto, aí Chantal Akerman serve-se da música como motivo fílmico mas para melhor a servir. E, claro, se puderem assistam aos concertos de Sonia Wieder-Atherton na Gulbenkian.

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