“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

domingo, 15 de março de 2015

Feminino, o rosto

    Uma das últimas noites passou no Arte "Purge"/"Puhdistus", do finlandês Antti Jokinen (2012), baseado em novela da sua compatriota Sofi Oksanen. Dele estreara o anterior "Perigo à Espreita"/"The Resident" (2011), que não vi, e da escritora não conheço qualquer edição portuguesa.               
                      Purge domine les classements et prend la route des Oscars
       "Purge" é um filme muito curioso a vários títulos. Centrado na relação entre uma mulher mais velha, Aliide/Liise Tandefelt, com as suas recordações, e uma mulher mais nova, Zara/Amanda Pilke, com o seu presente difícil comparável ao passado da outra quando nova, Aliide/Laura Birn, rebate o passado de uma na Estónia sob ocupação soviética no pós-guerra sobre o presente da outra no mesmo país às mãos de uma rede de prostituição russa.
       A experiência de uma replica e comenta a experiência da outra, sobre a qual se rebate com violações incluídas, mas, muito bem construído, este filme destaca-se também pelo uso insistente e muito bom do grande-plano de rosto, o que o assinala decididamente, embora na sua segunda parte diminua a sua utilização para regressar no final. 
                      Liisi Tandefelt as old Aliide in "Purge"
     Gilles Deleuze escreveu o que havia e há ainda hoje a dizer sobre esta figura cinematográfica em "A Imagem-Movimento" (Capítulo VI, A Imagem-Afecção), para o qual vos remeto e que Antti Joinen sem dúvida conhece. Neste "Purge" ele usa o grande plano e o plano de pormenor com assinalável sucesso em especial sobre as actrizes, muito bonitas e assim ainda mais expressivas, pois no grande-plano os sentimentos, as emoções, os afectos vêem-se, sentem-se, percebem-se melhor,
     Claro que estas coisas melhores só nos chegam no Arte, um canal cultural franco-alemão de referência que acompanho há muitos anos e aqui volto a aconselhar, de cuja programação neste momento destaco "28 minutes", um programa diário de debate vivo e sempre actual apresentado pela excelente Élisabet Quin às 20H 05M, de segunda a sexta-feira. Com o estranho e inexplicável afastamento da profissional de excepção que é Zeinab Badawi do noticiário da BBC World News, neste horário só Christiane Amanpour na CNN é a outra opção - mes hommages, mesdames.

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