“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

sábado, 9 de maio de 2015

O ritmo de tudo

    "Éden"/"Eden" (2014), a quarta longa-metragem e o mais recente filme de Mia Hansen-Love, este ano homenageada no Indie Lisboa, é uma obra muito apreciável por, ao revisitar a geração francesa dos anos 90 e acompanhá-la durante 21 anos, conseguir captar de modo muito feliz a sua vitalidade e o seu entusiasmo, deixando-nos assim um retrato em movimento dela. Sem moralismo ou falsos pudores.
                    Eden, Mia Hansen-Løve
     Ocupando-se mais de DJs do que de músicos, o filme de Mia Hansen-Love trata em todo o caso de música e estilos musicais e consegue a façanha notável de criar um ritmo musical próprio, que é forte e envolvente sem minimizar as suas personagens, antes acompanhando-as na sua actividade e nos seus dramas comezinhos mas importantes do quotidiano, próprios da idade e da época. Compreensivo e empático embora, o olhar da cineasta sobre as suas personagens é também crítico.
     O maior limite de "Éden" é o de não afirmar uma diferença geracional própria além da que decorre dos factos da vida e dos ambientes, do ritmo musical e vital. Fora disso, esta juventude aqui mostrada é igual a qualquer outra em qualquer outro tempo e lugar. Mas o ritmo do filme, que lhe advém da música e da montagem, justifica plenamente a sua conclusão.
                     Eden
     Obtida a colaboração de grandes nomes da música contemporânea em pequenos apontamentos, a cineasta consegue, entre Paris e New York, onde decorre um segmento importante do filme, dar mais uma prova muito positiva do seu grande e original talento. E da falta de carisma dos actores retira o carisma do filme. 
       Com argumento co-escrito com o seu irmão Sven, "Éden" é um filme sobre o ritmo, da música, da vida e do filme, sobre o tempo que passa a correr e já passou, deixando como marca as suas sugestões próprias (sobre Mia Hansen-Love ver "Amanhã à mesma hora", de 29 de Agosto de 2013).    

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