“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Uma primeira vez

    "Madame Bovary", de Gustave Flaubert, um dos melhores e mais famosos romances do Século XIX, tem justamente merecido a atenção de alguns dos grandes nomes do cinema: Jean Renoir (1934) e Vincente Minnelli (1949), Claude Chabrol (1991) e Manoel de Oliveira (1993). Contudo, o "Madame Bovary" da francesa Sophie Barthes (2014) é a primeira vez que esse romance é levado ao cinema por uma mulher.
    A cineasta, de quem não conheço a longa-metragem de estreia, "Alma Perdida"/"Cold Souls" (2009), com a participação de grandes actores de que se destaca Mia Wasikowska no papel principal mas com Paul Giamatti e Olivier Gourmet como actores convidados, consegue no seu filme o feito de não colocar a sua adaptação em lugar secundário perante tão importantes precedentes. Sem se agarrar a eles e mantendo-se como co-argumentisa, ela consegue um olhar distanciado mas próximo sobre uma mulher ambiciosa que procura subir apesar da, e com a sua insatisfação.
                      Mia Wasikowska plays Emma Bovary.
     Com momentos de pura inspiração visual, como Emma Bovary entre os cavalos, e outros bem resolvidos num filme todo ele muito bom em termos visuais (excelente fotografia de Andrij Parekh) e sonoros (embora um tanto excessiva, a música de Evgueni e Sacha Galperini é muito boa), "Madame Bovary" de Sophie Barthes cumpre bem, sem deslumbrar mas sem desiludir na sua realização, um programa narrativo conhecido, sem dó nem piedade mas traçando também com justeza um quadro social de época, com muito bom aproveitamento dos cenários naturais. E Mia Wasikowsaka vem juntar a sua interpretação, muito boa, a uma linha notável: Valentine Tessier, Jennifer Jones, Isabelle Huppert, Leonor Silveira.
      Vi e recomendo este filme porque penso que a sua narrativa e a sua protagonista se mantêm actuais, o que o filme de Sophie Barthes plenamente confirma, mas também porque, atendendo aos filmes precedentes, se trata de um especialmente importante "filme de programa" com os melhores antecedentes no cinema. Sobre Gustave Flaubert, aconselho "O Papagaio de Flaubert", de Julian Barnes (Lisboa: Quetzal, 2010 para a última edição).

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