“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

quinta-feira, 24 de março de 2016

A mulher de preto

    É uma bela surpresa "A Assassina"/"Nie yin niang", o mais recente filme de Hou Hsiao-Hsien (2015), o justamente famoso cineasta do já antigo cinema novo de Taiwan. E é uma bela surpresa por dois motivos.          
    Primeiro por ter o seu início a preto e branco, o que confere um tom muito próprio e evocativo ao importante prólogo. Segundo por se desenrolar numa época histórica, o século VII chineês, com características exteriores, sociais e políticas, que o filme respeita e aproveita de forma sólida e feliz com recurso ao melhor da estilística visual do cinema.
                    The Assassin
    Hou Hsiao-Hsien é um grande estilista do cinema, que aqui desenvolve um estilo original e pessoal para, mantendo-a a maior parte do tempo fora de campo, relatar a história de uma mulher de preto, Nie Yinniang/Qi Shu, que é tornada uma assassina mas não perde a sua mente, que não a liberta do pensamento humano.   
    O segredo estará na metade das peças de jade que ela partilha com aquele com o qual foi educada e do qual foi separada, Tian Ji'an/Chen Chang, que ela ajuda e ameaça, ameaça mas ajuda sem, como noutros casos, perder a consciência humana, chamando-o às suas responsabilidades conjugais e livrando-o de ataques sérios, em que o protege e defende com as suas capacidades físicas de combate e a sua destreza.
                     The Assassin
     Com uma fotografia excelente do habitual Lee Ping-bin, que se excede nos desfocados a partir de uma cortina e em todos os interiores e exteriores, em que usa todas as cores em todas as suas gamas para contrastar o preto e branco de mestra e discípula - em especial nos interiores, mais ricos e exuberantemente contrastados -, e uma música muito bem utilizada entre percussão, cordas e sopro de Giong Lim, a direcção artística de Weng Ding-Yang e o guarda-roupa de Huang Wen-Ying, "A Assassina" devolve-nos o cinema de Hou-Hsiao-hsien ao seu melhor nível de composição e de clareza na dobra do ambíguo, da ambiguidade saudável da protagonista, que como boa discípula excede e contraria os ensinamentos de quem a instruiu (sobre o cineasta, ver "Tempo de cinema", de 20 de Janeiro de 2012.)

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