“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

domingo, 6 de julho de 2014

Equívoco

   Muito na moda na actualidade, a adaptação ao cinema de obras literárias relevantes é, por si mesma, um problema. E é um problema porque, por regra, não lhes acrescenta nada e apenas convoca comparações disparatadas.
   "O Homem Duplicado"/"Enemy", do canadiano do Québec Denis Villeneuve (2013), baseado no romance homónimo de José Saramago (2002), enche de ambição o que não passa de um tele-filme enfadonho, sem soluções e sem saída, que voltado sobre o seu enigma o explora sem saber construir o seu mistério como filme.    
                   
     Por causa do prestígio, da celebridade que o cinema ainda (e talvez cada vez mais) arrasta consigo, nos tempos que correm mesmo os grandes escritores gostam de ver as suas obras postas em filme. José Saramago não tem tido sorte com os seus livros transpostos para o cinema, em adaptações que ficam sempre aquém do que ele escreveu e se limitam a ilustrá-lo, de que a melhor talvez seja mesmo "Embargo", do português António Ferreira (2010).
     Salvo o actor principal, Jake Gyllenhaal, mesmo sem considerar a qualidade da adaptação, pois não considero a fidelidade ao original um valor central, "O Homem Duplicado" de Denis Villeneuve tem tudo o que é necessário para fazer dele um fraco filme, que só por si um actor raramente, e em todo o caso não aqui, resgata.
                    O Homem Duplicado : Foto Sarah Gadon
      A relação da literatura com o cinema tem beneficiado da participação de grandes escritores no argumento do filme ou então da apropriação do livro por grandes cineastas. Nos outros casos, que são a maioria, trata-se de mero aproveitamento do sucesso literário por parte do cinema, que com ele se enfeita, desse modo procurando engrandecer-se quando de facto geralmente se limita e apouca.
     Não se salva nada neste "O Homem Duplicado" de Denis Villeneuve? Por mim, apenas a sugestão final e nada mais.

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