“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

domingo, 6 de julho de 2014

Impasse

   O último filme de Xavier Dolan a estrear em Portugal, "Tom na Quinta"/"Tom à la ferme" (2013), confirma-o como um cineasta hábil mas também confinado a uma temática, a da sua própria orientação sexual. Não tenho, evidentemente, nada contra isso, que actualmente até está na moda, mas penso que como cineasta ele ainda não saiu daí, do seu caso, o que por ser limitativo é mau sinal.
   Sem a ironia de "Laurence Para Sempre"/"Laurence Anyways", 2012 (ver "Um novo autor", 17 de Agosto de 2013), o canadiano do Québec volta a debruçar-se sobre si próprio, agora até como actor, o que a habilidade da realização e a pertinência do ponto de partida adoptado, uma peça teatral de Michel Marc Bouchard, não fazem esquecer, antes realçam.
                  
   Visto como "menino bonito" do cinema actual, com um importante prémio no último Festival de Cannes por "Mommy" (2014), pode fazer as habilidades e as caretas que quiser que a mim não me convence enquanto não sair de si próprio e, a partir da sua própria orientação sexual, a transcender como problema para enfrentar as grandes questões do seu tempo e da sua cultura, que a ela não se limitam. Como fizeram antes dele grandes cineastas como Luchino Visconti, Pier Paolo Pasolini, Gus Van Sant, Pedro Almodóvar.                                    
   Em "Tom na Quinta" ele tira partido da concentração espacial da peça de origem e até do embaraço da morte mas não vê para além da sua problematicazinha, a que está manifestamente limitado e de que, pelos vistos, muitos gostam. Reconhecendo os seus méritos na exploração do espaço e até mesmo da narrativa, pela minha parte identifico em "Tom na Quinta" o impasse do cineasta Xavier Dolan e o equívoco do seu rumo. Porque, e aqui temos que nos entender, por muito importante que a forma seja no cinema, como defendo, o cinema a ela não se limita. "Starlette" talvez, agora grande cineasta, perante a história do cinema e apesar de sinais promissores ainda não, de maneira nenhuma.

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