“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

quinta-feira, 9 de junho de 2016

8 dias em Roma

     Baseado no romance de Giancarlo De Cataldo e Carlo Bonini, "Suburra" é a segunda longa-metragem para cinema de Stefano Sollima (2015), também realizador da série televisiva "Gomorra" (2014-2016) que passou há uns meses no Arte.
     Tudo é dirigido por um gangster poderoso, Samurai/Claudio Amendola, que está interessado em transformar Óstia numa nova Las Vegas e para o conseguir recorre a todos os estratagemas, incluindo a compra de um deputado, Filippo Malgradi/Pierfrancesco Favini, e relações privilegiadas com o Banco do Vaticano, Cardeal Berchet/Jean-Hugues Anglade, enquanto decorre uma guerra de gangs em que ele assegura protecção ao seu grado.
                    
     Sucedem-se mortes e vinganças, chantagens num mundo de sexo e drogas em que o dito deputado sai chamuscado pela morte de uma prostituta menor. O filme de Stefano Sollima tem o mérito de não poupar nada nem ninguém, personagens menores e maiores, todas elas envolvidas num mesmo imbrógleo mesmo se lateralmente, por medo, fraqueza ou compromissos sórdidos.
     Mas ao contar tudo o que decorre entre 5 e 12 de Novembro de 2011, quando no Vaticano o Papa se apresta para resignar, "Suburra" explora os factos sem qualquer contraponto, o que o torna um filme sem reflexão para além de factos que, ficcionados embora, hoje em dia não espantam ninguém. Na teia de cumplicidades criminais vigora o princípio de que "todo o homem tem um preço", como dizem os portugueses que percebem do assunto - e é mesmo isso que mais odeio neles -, pelo que tudo e todos se compram e vendem como num típico filme de gangsters.     
                     Suburra: a Roman western between politics and criminality
     Apostando na estrutura clássica do filme de gangsters, todos os crimes são punidos durante o próprio filme, salvo o de Malgradi, peça eminentemente substituível no parlamento que vier a ser eleito a seguir. Em bruto, sem qualquer recuo ou distância o filme vale pelos seus elementos técnicos e artísticos, com fotografia de Paolo Carnera, música de Pasquale Catalano e montagem de Patrizio Marone, e actores todos eles muito bons. 
     Mas para além da "denúncia" não fica nada, o que faz com que saiba a pouco mais do que o seu próprio espectáculo - um bom espectáculo apesar de tudo num filme mais de género do que político que não deve ser tomado por mais do que aquilo que tem para dar.

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