“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O espaço e o seu uso

    Em "Família: Rui Chafes & Pedro Costa com Jean-Marie Straub & Danièle Huillet", a instalação patente no Museu Nacional Machado de Castro mesmo depois da inciativa AnoZero: Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra durante a qual se iniciou, o que se torna decisivo é o espaço e a sua utilização. De facto, mal conhecido e pouco visto apesar da sua importância, o espaço do criptopórtico romano do Aeminium é à partida tudo menos um espaço museal. Foi, no entanto, no seu muito antigo, escuro e arruinado espaço que os artistas quiseram situar uma sua instalação.
   Não vou em pormenor comentar as imagens e objectos de cada um a não ser para demonstração da utilização do espaço. Longos e escuros, antiquíssimos corredores com salas laterais e ao fundo, sobre umas escadas, uma parede em que é projectado um filme com palavras francesas poéticas e políticas, belamente recitadas. Lateralmente, em algumas das salas imagens fixas, luminosas mas escuras, no escuro marcam e demarcam o espaço de forma insólita. As alturas são uma perspectiva que não deixa de, a partir do fundo, das profundidades ser explorada.
   Naquela família que conheço bem aprecio aqui o arrojo do desafio, que sendo artístico é também e até sobretudo político numa instalação que vista em baixo, entre ruínas, se torna mais perceptível, bela e tocante. Em imagens conformes num espaço esclarecedoramente agreste e inesperado, aquela família pareceu-me bem, muito obrigado. A instalação estará no MNMC até 31 de Janeiro de 2016.
     Neste momento os meus parabéns a Rui Chafes pela atribuição do Prémio Pessoa 2015 (sobre ele, ver "Uma antológica", de 20 de Fevereiro de 2014; sobre instalações de Pedro Costa, ver "Instalações em diálogo", de 26 de Outubro de 2012; sobre Straub/Huillet, ver "Poética straubiana", de 15 de Novembro de 2012).
      Mas, além de verem esta instalação, aproveitem para visitar o Museu Nacional Machado de Castro, que vale muito a pena conhecer - ver, a seu respeito, "Mirleos", de João Miguel Fernandes Jorge (Lisboa: Relógio d'Água, 2015).

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