“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Secreto

    "Ensurdecedor"/"Louder Than Bombs", de Joachim Trier (2015), é a terceira longa-metragem deste realizador norueguês, a primeira rodada nos Estados Unidos, e tem uma construção complexa que merece a nossa atenção.
    A partir do segredo guardado pelo pai, Gene/Gabriel Byrne, de Conrad/Devin Druid sobre a causa da morte da sua mãe, Isabelle/Isabelle Huppert, famosa foto-jornalista de guerra, dois anos antes, que apenas o filho mais velho, Jonah/Jesse Eisenberg conhece, o realizador, também co-argumentista com Eskil Vogt, constrói o seu filme sobre várias vozes e recordações em tempos diferentes a partir de um presente em que a verdadeira causa da morte de Isabelle vai ser publicamente revelada.      
                  
    Tudo se ajusta em termos de argumento e em termos de filme, embora a prevalência de um tom de melodrama familiar, porque circular seja pouco propícia a um maior desenvolvimento. Por outras palavras, apesar do seu interesse o filme não chega ao nível do argumento: embora mantenha uma realização tensa e precisa e interpretações correctas, patina várias vezes no percurso, narcisicamente enfadonho e sem perspectivas.
    Muito americanamente simplista, anulando qualquer rugosidade com uma rasura do assunto por um pensamento formatado e definido à partida, sem aprofundar, a não ser pelo exterior acessível à memória, a personagem desaparecida, de que, contudo, preserva o mistério, o que constitui mesmo o seu maior mérito.
                  
    Espero que no seu próxima longa-metragem o cineasta possa confirmar as esperanças nele depositadas a partir da anterior, "Oslo, 31 de Agosto"/"Oslo, 31. august", 2011 (ver "Até ao fim", de 14 de Setembro de 2012), pois este "Ensurdecedor" surge, apesar das suas qualidades, como um objecto demasiado redondo e confortável.

Sem comentários:

Enviar um comentário