“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Fala baixo

    "Phoenix", a última longa-metragem de Christian Petzold (2014), é mais um filme extraordinário daquele que é um dos melhores cineastas alemães e europeus da actualidade, de novo com Nina Hoss, provavelmente a melhor actriz europeia de hoje.
    Com argumento da sua autoria e de Harun Farocki (1944-2014), baseado em "Le Retour des cendres" de Hubert Monteilhet, o filme desenrola-se de forma enigmática até sabermos por Lene Winter/Nina Kuzendorf que Esther, cujo rosto destruído teve que ser reconstruído, é de facto Nelly Lenz/Nina Hoss, no desconhecimento deste levada pelo seu ex-marido, Johannes/Ronald Zehrfeld, a fazer-se passar por quem efectivamente é, depois do final da II Guerra Mundial e da passagem dela por um campo de concentração nazi.
                     Phoenix Ronald Zehrfeld Nina Hoss
      Um novo longo percurso em comum é descrito pelo par, na ignorância dele de que Esther é de facto Nelly (repito), no intuito da parte dele, que a terá denunciado aos nazis, de se apoderar da herança a que ela teria direito.
      Tudo de uma grande clareza mas também de uma grande subtileza, pois o ponto de vista que nos é dado seguir é, desde o início, o de Esther/Lenny, o que permite acompanhar as oscilações dela naquele renovado e hesitante convívio, com a confidente Lene, personagem instrumental plenamente justificada, até certo momento. Até à assombrosa cena final em que ela canta "Speak Low", no final sem acompanhamento de Johannes ao piano, em que Nina Hoss culmina uma interpretação notável.
                      Still shot from "Phoenix"
      Existe em "Phoenix" a ideia de uma encenação e de um encenador, Johannes evidentemente, que volta a funcionar em pleno, superlativamente na obra de Christian Petzold (ver "O encenador", de 21 de Setembro de 2012, e "A fuga", de 7 de Fevereiro de 2013). Só que, desta vez de forma clara o encenador é ele próprio vítima da encenação daquela que quis encenar, que no plano final muito apropriadamente desaparece pela janela no desfocado da imagem. Para ela viver três vezes.
     Perfeito em termos cinematográficos, este é um filme com o mérito especial de evocar a II Guerra Mundial e o pós-guerra, questão que ainda hoje, já depois da reunificação do seu país, assombra (e ainda bem) os alemães. Com música muito evocativa.

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