“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

domingo, 26 de abril de 2015

Os olhos dela

       O filme do norueguês Erik Poppe "Mil Vezes Boa Noite"/"1000 Times Good Night"/"Tusen ganger god natt" (2013) é um filme estranho que vai contra hábitos ainda hoje instalados de filmes tensos, activos e nervosos, convocados mesmo pelos jogos de vídeo e pelo computador. 
                     'Mil Vezes Boa Noite' segue em cartaz, em Caxias MAresFilmes/Divulgação
     Centrando-se numa repórter fotográfica, Rebecca/Juliette Binoche, que desafiando situações perigosas mas que interessa que ela veja com a sua máquina fotográfica para que todo o mundo as conheça, não só é ferida, primeiro, como depois tem de conviver com o marido e as filhas que não favorecem o seu regresso ao trabalho, não obstante o que, ao regressar, ela pretende iniciar na profissão a filha mais velha,Steph/Chloë Annette.
      Pela interpretação de Juliette Binoche passa muito bem o envolvimento da protagonista com o seu trabalho, mas Erik Poppe faz a opção certa de não só manter um ritmo calmo, propício ao melodrama, como de por diversas vezes dar planos de pormenor dos olhos dela, o que é muito importante pois é com os seus olhos que Rebecca trabalha para os olhos de outros, de todo o mundo. 
                     Mil Vezes Boa Noite | 1,000 Times Good Night
     Em África ou no Afeganistão, no Médio Oriente ou em qualquer outro lugar em que há gente que sofre por causa de guerras evitáveis ou por outros motivos, o trabalho do repórter fotográfico como o do operador de imagem é hoje em dia fundamental para nos permitir a todos - mesmo se contra os interesses de um poder preocupado com o poder da imagem por causa da imagem do poder - saber o que se passa. E passa-se hoje em dia tanta coisa inacreditavelmente desumana que é preciso vermos para acreditarmos, e para isso é necessário que haja quem o capte para o mostrar.
    Devo dizer que em "Mil Vezes Boa Noite" de Erik Poppe (co-argumentista com Harald Rosenlow-Eeg além de realizador) não me prendem excessivamente os problemas familiares de Rebecca, hoje em dia comuns (embora reconheça que ser uma mulher em vez de um homem o protagonista torna tudo ainda mais claro), mas os olhos dela, os olhos de Juliette Binoche por todos os olhos do mundo, para todos os olhos do mundo.      

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