“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

sábado, 3 de outubro de 2015

O coleccionador

     Na retrospectiva integral de Jacques Tati (1907-1982) que a Medeia Filmes promoveu este Verão, uma iniciativa muito importante ao nível de outras sobre grandes nomes da história do cinema realizadas em anos anteriores, dos poucos filmes do grande cineasta e actor francês limitei-me a assistir à sessão que reúne as suas curtas-metragens iniciais a preto e branco, interpretadas por si em filmes que, salvo num caso, não dirigiu, e duas outras mais recentes, já a cores, feitas com a sua filha Sophie Tatischeff (1946-2001).
      Mesmo que já tivesse podido ver um ou outro desses filmes iniciais em sessões desgarradas da Cinemateca Portuguesa, foi agora que pude olhar para eles no sentido que fazem ao esboçarem, já com o cinema sonoro, a figura e os filmes com Monsieur Hulot, que marcaram uma época e anteciparam a nouvelle vague francesa, que influenciaram.
                      
     É muito curioso não só observar os movimentos desajeitados do alto e magro jovem Tati, que procuram, ainda no escuro, uma outra coisa que só com o tempo se viria a definir em figura física, inocente e ingénua mas observadora, perturbadora e reveladora, como verificar mesmo breves momentos em que são esboçados, de forma incipente, gags que viriam a ser desenvolvidos pelo cineasta nas suas longas-metragens. 
     De resto, são patentes as influências dispersas dos que o tinham precedido no burlesco mudo: Max Linder, sobretudo Chaplin mas também Buster Keaton. As curtas-metragens iniciais com Jacques Tati são "Procura-se Brutamontes"/"On Demande une brute", de Charles Barrois (1934), "Domingo Animado"/"Gai Dimanche", de Jacques Berr (1935), em ambos dos quais ele contracena com o palhaço Rhum, "Cuida do teu Gancho Esquerdo"/"Soigne ton gauche" (1936), de René Clément, e "A Escola dos Carteiros"/"L'École des facteurs", já realizado por ele próprio (1946).
                      L'Ecole des facteurs : Photo Jacques Tati
      No final desta sessão o documentário de circunstância "Força, Bastia"/"Forza Bastia", de Jacques Tati e Sophie Tatischeff (1978), e "Especialidade da casa"/"Dégustation maison", de Sophie Tatischeff (1976), que recorda de modo breve, em interior familiar e em exterior, o universo do grande Jacques. 
        De Jacques Tati interessa ainda "O Mágico"/"L'illusionniste", de Sylvain Chomet (2010), filme de animação baseado em argumento original seu. Sempre que posso, como um coleccionador vejo todos os filmes dos cineastas que amo. E falo disto agora porque ainda vão a tempo de ver, em versões digitais restauradas, os filmes todos que passam neste ciclo dedicado a um nome maior do cinema.

Sem comentários:

Enviar um comentário