“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Uma noite em Havana

    Ainda hoje sobretudo conhecido por "A Turma"/"Entre les murs" (2008) embora conte outros filmes estimáveis, o francês Laurent Cantet voltou a Havana para "Regresso a Ítaca"/"Retour à Ithaque" (2014) depois de aí ter feito já um dos episódios de "7 dias em Havana"/"7 días en la Habana" (2012) - ver "Havana 2012", de 21 de Setembro de 2012.
    Para este seu último filme parte da adaptação livre de uma novela de Leonardo Padura, que com ele participa no argumento. É, assim, sem surpresa que deparamos, nos diálogos entre cinco amigos que um deles define no início como "um clube da terceira idade", com todas as referências à Cuba actual dos romances e novelas do grande escritor cubano. 
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     Sem meias tintas nem piedosas ambiguidades, aquela é a Havana contemporânea, capital de um país contemporâneo que se tornou famoso devido a uma revolução que instituiu um regime comunista que ainda hoje, passados mais de 50 anos, se mantém. Amadeo/Néstor Jiménez regressa a Havana depois de ter estado 16 anos em Espanha, e os diálogos reflectem o que foi a vida de cada um deles durante esse tempo e mesmo antes.
    Há a Miami distante mas tão próxima onde vivem os filhos de Tanía/Isabel Santos, há a vida frustrada de pintor de Rafa/Fernando Hechavarria como frustrada na literatura embora de forma diferente foi a do regressado, há o homem que acreditou, Aldo/Pedro Julio Días Ferran, que tem um filho a quem já nada daquilo diz seja o que for, e há o homem integrado, peça do sistema, Eddy/Jorge Perugorría, que se depara ele também com problemas, todos eles amigos desde sempre que se reunem uma noite, num terraço, para celebrar o regresso de Amadeo entre o final de um dia e a madrugada do dia seguinte.   
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     O que se torna muito curioso é que a realização sóbria de Laurent Cantet, com boa utilização do espaço, grande proximidade dos rostos e grandes actores, se centra em diálogos que fazem sentir um país de que revelam o passado recente e o presente - como nos livros de Padura com Mario Conde, nomeadamente. E admito mesmo que quem não conhecer os livros deste grande escritor tenha acesso menos facilitado a este filme exigente e muito bom - sobre Padura ver "A hora e a vez", de 25 de Junho de 2015.
     Por entre a frustração e o medo prevalece a amizade, que Fela/Carmen Solar, a mãe de Aldo que lhes prepara a refeição, lhes propõe e  o relato final de Amadeo demonstra, dizendo que entre eles não houve nem haverá "última ceia".

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