A exposição "Bill Viola" patente no Grand Palais, em Paris, até 21 de Julho oferece uma possibilidade extraordinária de ver algumas das grandes obras em vídeo do hoje lendário videasta americano.
Com uma muito boa ocupação do espaço em salas sucessivas, a própria exposição funciona como diversas instalações ou uma grande instalação em que, sobre paredes opostas, os filmes em vídeo do artista pela sua exposição museográfica formam diversas peças ou uma mesma obra compósita.
Na verdade, ao ocupar o espaço do museu Bill Viola provoca uma sua renovação que a grande originalidade do seu trabalho, centrado na questão temporal, na exploração da duração, suscita. Direi que três ideias-força decorrem destas exposição, no seu longo desdobrar que culmina numa vasta sala em que funcionam ao mesmo tempo cinco ecrãs com cinco filmes diferentes.
A primeira ideia é o jogo com a dilatação temporal, convocada pela longa distância percorrida, num só e mesmo plano, horizontalmente ou com gente que vem da profundidade distante do plano. Essa duração na distância pode dar-se com muita gente que percorre o mesmo percurso paralelo à câmara do videasta ou com um número variável de pessoas que, vindas do fundo, dela se aproximam.
Em segundo lugar, alguns destes filmes cumprem um ritual quotidiano, em condições normais ou de excepção, pelo que são habitados por uma ideia de ritual e de repetição. Sem querer exagerar, creio que se contam entre os constantes desta exposição alguns dos melhores vídeos de Bill Viola.
Uma terceira característica muito importante desta exposição é a integração da natureza nos vídeos, que a filmam ao filmarem aqueles que a percorrem, e nesse rodar pela natureza alguma coisa desta contamina os que a atravessam e dela retiram a sua parte elementar e o seu todo. E quando imagens de fogo ocupam o ecrã ele surge como elemento natural, indomável, enquanto as imagens da água a apresentam como elemento dominável. Mas quando se fecha, mesmo se em corte, sobre espaços fechados o trabalho do videasta dá tempo para que o que tem para mostrar se desenvolva num único plano, que no seu desenrolar seguimos atentamente.
Claro que a proliferação no espaço dos trabalhos de Bill Viola cria um novo dispositivo, que habita e elabora de modo tal que, como tem sido observado, é o espectador que se move entre as imagens, dedicando a sua atenção ora a um, ora a outro ecrã, sempre frente a frente, por vezes lado a lado. Na última sala o espectador/visitante move-se de modo a tentar abarcar o maior número de ecrãs possível, por eles dividindo a sua atenção, mas só mesmo uma visita demorada ou uma nova visita permitem ir mais longe.
Bill Viola é um nome tido como fundador da arte do vídeo, com uma obra plurifacetada composta por filmes que funcionam por si mesmos, isoladamente, mas também podem ser objecto de uma montagem museográfica apropriada, como esta exposição do Grand Palais faz ao explorar a possibilidade de convívio de imagens diferentes de filmes diferentes no interior dos mesmos espaços.
Com o vídeo muda o suporte do filme de modo que origina a mudança do próprio filme, do seu conceito e das suas coordenadas técnicas mas também espacio-temporais. O vídeo pode explorar mais, como com Bill Viola exemplarmente acontece, a dimensão estética, plástica da imagem quer em termos espaciais quer em termos de duração, mesmo se com prejuízo de uma dimensão narrativa tradicional, o que o tornou uma nova e muito importante arte visual e sonora.
Foi com a emergência do vídeo como novo dispositivo visual e sonoro que o lugar do espectador começou a mudar, de fixo para móvel, de sentado para de pé e caminhando, de passivo para mais activo, de acordo com a mudança dos tempos. Desligado da própria ideia de "indústria" que tem acompanhado o cinema e o audiovisual, o vídeo artístico tem mostrado uma plasticidade conceptual nova e muito atraente, que o levou mesmo a ultrapassar o cinema, que em múltiplas circunstâncias dá mostras de estar a "envelhecer mal" enquanto continua a depender de um dispositivo fixo, imutável.
Dos pormenores do corpo (o rosto, as mãos) aos grupos humanos, dos corpos erectos aos corpos sentados ou deitados, uma outra ideia-força fundamental que atravessa esta exposição é a do envelhecimento do próprio corpo humano - de novo os efeitos do tempo -, o que é muito importante num artista que, dizendo não temer a morte, também a representa e convoca nos trabalhos aqui patentes - logo à entrada no dispositivo em espelho em que nascimento e morte são colocados face a face, que funciona como mote da exposição.
Esta exposição "Bill Viola" no Grand Palais em Paris justifica plenamente a deslocação e o eventual incómodo da espera pela nova perspectiva técnica e estética que abre à arte em geral e à imagem em movimento em especial.
A primeira ideia é o jogo com a dilatação temporal, convocada pela longa distância percorrida, num só e mesmo plano, horizontalmente ou com gente que vem da profundidade distante do plano. Essa duração na distância pode dar-se com muita gente que percorre o mesmo percurso paralelo à câmara do videasta ou com um número variável de pessoas que, vindas do fundo, dela se aproximam.
Em segundo lugar, alguns destes filmes cumprem um ritual quotidiano, em condições normais ou de excepção, pelo que são habitados por uma ideia de ritual e de repetição. Sem querer exagerar, creio que se contam entre os constantes desta exposição alguns dos melhores vídeos de Bill Viola.
Uma terceira característica muito importante desta exposição é a integração da natureza nos vídeos, que a filmam ao filmarem aqueles que a percorrem, e nesse rodar pela natureza alguma coisa desta contamina os que a atravessam e dela retiram a sua parte elementar e o seu todo. E quando imagens de fogo ocupam o ecrã ele surge como elemento natural, indomável, enquanto as imagens da água a apresentam como elemento dominável. Mas quando se fecha, mesmo se em corte, sobre espaços fechados o trabalho do videasta dá tempo para que o que tem para mostrar se desenvolva num único plano, que no seu desenrolar seguimos atentamente.
Claro que a proliferação no espaço dos trabalhos de Bill Viola cria um novo dispositivo, que habita e elabora de modo tal que, como tem sido observado, é o espectador que se move entre as imagens, dedicando a sua atenção ora a um, ora a outro ecrã, sempre frente a frente, por vezes lado a lado. Na última sala o espectador/visitante move-se de modo a tentar abarcar o maior número de ecrãs possível, por eles dividindo a sua atenção, mas só mesmo uma visita demorada ou uma nova visita permitem ir mais longe.
Bill Viola é um nome tido como fundador da arte do vídeo, com uma obra plurifacetada composta por filmes que funcionam por si mesmos, isoladamente, mas também podem ser objecto de uma montagem museográfica apropriada, como esta exposição do Grand Palais faz ao explorar a possibilidade de convívio de imagens diferentes de filmes diferentes no interior dos mesmos espaços.
Com o vídeo muda o suporte do filme de modo que origina a mudança do próprio filme, do seu conceito e das suas coordenadas técnicas mas também espacio-temporais. O vídeo pode explorar mais, como com Bill Viola exemplarmente acontece, a dimensão estética, plástica da imagem quer em termos espaciais quer em termos de duração, mesmo se com prejuízo de uma dimensão narrativa tradicional, o que o tornou uma nova e muito importante arte visual e sonora.
Foi com a emergência do vídeo como novo dispositivo visual e sonoro que o lugar do espectador começou a mudar, de fixo para móvel, de sentado para de pé e caminhando, de passivo para mais activo, de acordo com a mudança dos tempos. Desligado da própria ideia de "indústria" que tem acompanhado o cinema e o audiovisual, o vídeo artístico tem mostrado uma plasticidade conceptual nova e muito atraente, que o levou mesmo a ultrapassar o cinema, que em múltiplas circunstâncias dá mostras de estar a "envelhecer mal" enquanto continua a depender de um dispositivo fixo, imutável.
Dos pormenores do corpo (o rosto, as mãos) aos grupos humanos, dos corpos erectos aos corpos sentados ou deitados, uma outra ideia-força fundamental que atravessa esta exposição é a do envelhecimento do próprio corpo humano - de novo os efeitos do tempo -, o que é muito importante num artista que, dizendo não temer a morte, também a representa e convoca nos trabalhos aqui patentes - logo à entrada no dispositivo em espelho em que nascimento e morte são colocados face a face, que funciona como mote da exposição.
Esta exposição "Bill Viola" no Grand Palais em Paris justifica plenamente a deslocação e o eventual incómodo da espera pela nova perspectiva técnica e estética que abre à arte em geral e à imagem em movimento em especial.
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