Fiquei decididdamente muito satisfeito com a atribuição da Palma de Ouro do Festival de Cannes deste ano ao turco Nuri Bilge Ceylan, que considero um dos melhores cineastas actuais a nível mundial e no mesmo Festival tinha sido já galardoado com o prémio para o melhor realizador em 2008 por "Os Três macacos"/"Üç maymun" e com o Grande Prémio do Júri em 2011 por "Era Uma Vez na Anatólia"/"Bir zamanlar Anadolu'da" (ver "A grande fronteira", 20 de Maio de 2012).
Conhecendo todas as suas longas-metragens, posso apreciar tudo o que de subjectivo a nível de criação os seus filmes envolvem, da sua própria criação à exploração da incomunicabilidade, dos longos trajectos individuais aos locais isolados, numa sociedade complexa como é a Turquia contemporânea. Por esse lado, como a argentina Lucrecia Martel próximo de Michelangelo Antonioni, Ceylan confere aos seus filmes uma extrema densidade de situações e ambientes que a cor, tratada em saturação, ajuda a criar do lado da afecção, do afecto.
Grande criador de personagens e de intrigas, por vezes minimalistas, ele não hesita, como em "Winter Sleep"/"Kis uykuso" (2014), agora distinguido em Cannes, na grande duração dos seus filmes (mais de três horas) para, desafiando a produção massificada, expor detidamente o que tem a dizer, a mostrar de forma pessoal. Ainda não conheço o filme, embora o aguarde com grande expectativa, mas desde já aconselho este cineasta fundamental que trabalha a sua arte, o cinema, como artista, grande artista, sempre como realizador e argumentista ou co-argumentista dos seus filmes.
De um país em cuja cinematografia se destacara Yilmaz Güney ("Yol - Licença Precária"/"Yol", 1982, também Palma de Ouro em Cannes) e de que aprecio Orhan Pamuk, um país herdeiro de uma cultura antiquíssima muito importante e muito diferente das culturas ocidentais, Nuri Bilge Ceylan consegue sempre de forma notável dar conta dos paradoxos que a modernidade lhe levanta de uma forma não simplista, cinematograficamente superior. A seguir atentamente, com os meus parabéns ao júri de Cannes 2014 presidido por Jane Campion.
Sem comentários:
Enviar um comentário