O mais recente filme do francês Benoît Jacquot, "Três Corações"/"3 coeurs"" (2014), podia não passar de uma banal história de amores cruzados e desencontrados por causa de um enfarte do miocárdio de Marc Beaulieu/Benoît Poelvoorde, que o faz falhar um encontro com Sylvie Berger/Charlotte Gainsbourg e o encaminha para os braços da irmã dela, Sophie/Chiara Mastroianni, sob o olhar cúmplice mas atento da mãe de ambas/Catherine Deneuve. E em certa medida não passa disso.
Transformar um acaso em força motora do filme, apesar dos actores aproxima-o do esquema da telenovela e do melodrama - também do melhor, no encontro marcado para o topo do Empire State Building em "Ele e Ela"/"Love Affair" (1939) e em especial "O Grande Amor da Minha Vida"/"An Affair to Remember" (1957), ambos de Leo McCarey. Mas Jacquot denuncia a pretensão de um olhar moderno pela maneira como godardianamente filma no início o encontro entre Marc e Sylvie.
Contudo, o olhar moderno não se aguenta com o desenrolar da narrativa, em que apenas a confusão de Marc, e também de Sophie, e o olhar suspeitoso da mãe desta por momentos remetem para um outro nível, em que o cruzamento temporal assume um outro significado. Tudo é melodrama, soap opera do pior, propositadamente talvez, que apenas o final parcialmente redime, tarde mas redime. Mas se olhado na perspectiva que o final propõe de forma inesperada e inteligente, talvez os cruzamentos temporais anteriores não fossem estéril artifício apenas e até uma certa flutuação espacial se possa compreender melhor.
Visto nesta perrspectiva, este filme, de que à primeira vista não se gosta especialmente, pode significar que Benoît Jacquot está de regresso ao seu melhor, apesar das apreensões que já aqui manifestei a seu respeito (ver "Os esquecidos", de 7 de Abril de 2013, e "Desperdício", de 19 de Setembro de 2014). "Três Corações" salva-se pelo final, que talvez salve o filme, remetendo-o para uma outra dimensão que ele pode retrospectivamente implicar: a de uma linha narrativa alternativa.
Vamos ver como isto continua com um filme com antecedentes de vulto (Jean Renoir, 1946; Luis Buñuel, 1964) como é "Journal d'une femme de chambre" (2015), baseado em Octave Mirbeau, que Benoît Jacquot está a terminar agora. Depois voltamos a falar dele.
Vamos ver como isto continua com um filme com antecedentes de vulto (Jean Renoir, 1946; Luis Buñuel, 1964) como é "Journal d'une femme de chambre" (2015), baseado em Octave Mirbeau, que Benoît Jacquot está a terminar agora. Depois voltamos a falar dele.
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