“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Um amor difícil

    Como Elia Suleiman nascido em Nazaré, em Israel, Hany Abu-Assad tornou-se conhecido com "O Paraíso Agora!"/"Paradise Now" (2005) e dele estreou há pouco "Omar" (2013), um novo filme a vários títulos notável, em si mesmo e na dissecação de uma situação difícil e complexa no Médio Oriente, com efeitos devastadores que todos conhecemos num conflito infindável.
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    Com argumento da sua autoria e produção sua, o filme embrenha-se nas relações entre três amigos palestinianos, Omar/Adam Bakri, Amjad/Samer Bisharat e Tarek/Eyad Hourani, pela irmã do qual, Nadia/Leem Lubany, apesar do muro que os separa o primeiro está apaixonado. A partir daqui pode ser considerado a história de um difícil amor, pois os namorados se encontram separados pelo Muro da Separação, sem prejuízo de ser visto também como um filme de acção a partir do atentado contra uma unidade militar israelita perpretado pelos três amigos, na sequência do qual Omar é preso.
     Muito bem urdida e construída em termos cinematográficos, a narrativa de "Omar" vai do amor ao ódio, do conflito à traição, o que de maneira muito clara expõe de modo a interessar-nos nas suas personagens e no que lhes acontece. Frente a um polícia israelita que o manipula, tentando torná-lo seu informador, Omar tem de enfrentar a traição de Amjad, que acaba por, depois da morte de Tarek, casar com Nadia.
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    Com imaginação, Hani Abu-Assad trabalha sobre o imaginário do próprio conflito israelo-palestiniano assumindo um ponto de vista definido, o do palestiniano Omar, mas questionando-o também exaustivamente na sua coesão e coerência, na rede de cumplicidades em que ele se envolve e no destino das suas amizades e amores, o que confere todo o interesse ao filme. Com actores muito bons, "Omar" oferece-se como uma tragédia actual, de que contém todos os ingredientes numa mistura explosiva.
      Condimentado por dispersos elementos de humor (as sete irmãs de Amjad), este é um filme muito bom que fala pelo cinema da Palestina mas também pelos palestinianos de uma forma que não se pretende redutora ou simplista, antes pretende enfrentar a complexidade da situação e das suas personagens, o que o torna um filme de grande importância.

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