“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Para Jafar Panahi

    Meu caro Jafar Panahi. Sou um modesto admirador dos teus filmes, daquilo que eu chamo a tua obra cinematográfica - ou daquilo que dela conheço. Não tenho rebuço em afirmar que para mim o cinema, e portanto o teu cinema também, é uma arte, por isso eminentemente respeitável como forma superior de expressão do ser humano.
     Soube que te foi atribuído o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim deste ano de 2015 por um filme que ainda não conheço mas espero vir a conhecer. Fiquei muito satisfeito com mais este importante prémio que te foi atribuído e por ele te felicito. Pelos teus filmes que vi - "O Cículo"/"Dayereh" (2000), "Sangue e Ouro"/"Talaye sorkh" (2003), "Offside - Fora de Jogo"/"Offside" (2006) e "Isto não é um Filme"/"In film nist" (2011), verdadeiramente admirável - sei que és um cineasta contemporâneo muito importante. Pela comunidade cinematográfica e pelos meios de comunicação sei das difíceis, indignas circunstâncias em que vives e trabalhas.
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  Sinto-me, por isso, autorizado a dizer-te prioritariamente que deves persistir no teu esforço pessoal de continuar a criar em filme o que, sem ti, não poderia existir. Não te esqueças de que nestes 120 anos de história do cinema outros viveram em circunstâcias semehantes à tua actual situação e não desistiram. O futuro pertence-te desde que continues a trabalhar sobre o teu presente - e o presente é o que nos é dado conhecer pessoalmente.
    E não te esqueças de continuar a acompanhar o cinema contemporâneo como puderes, porque isso é importante para situares melhor os teus filmes. Deposito em ti inteira confiança e podes contar com o cinema em teu favor enquanto continuares a ser um cineasta que trabalha o cinema pelo cinema, como arte, como deve ser e todos nós continuamos a fazer. Que este prémio por "Taxi" (2015), o teu mais recente filme, te sirva de estímulo e transmita confiança. 
                      Taxi Jafar Panahi
  E continua, por favor, a dar-nos notícias tuas, enquanto continuamos todos a exigir sejas restituído a condições de plena liberdade e os teus filmes possam circular normalmente no teu país.
   (Sobre o cinema iraniano, ver "Uma questão familiar", de 5 de Julho de 2012, "Desenvolto e atento", de 11 de Setembro de 2013, e "A vida e a morte", de 31 de Dezembro de 2013. Sobre Abbas Kiarostami, ver "Uma tarde na Toscãnia", de 14 de Janeiro de 2012, e "Grandeza de Kiarostami", de 6 de Outubro de 2013.)

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