“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Prova de actores

      Baseado na conhecida peça de teatro de August Strindberg (1849-1912), "Miss Julie" (2014) é a primeira longa-metragem de Liv Ullmann como realizadora desde "Infidelidade"/"Trolösa" (2000), sobre argumento de Ingmar Bergman (1918-2007), que era um bom filme. Sendo fundamentalmente uma prova de actores, e Jessica Chastain, Colin Farrell e Samantha Morton são-no aqui indubitavelmente, este é, porém, um texto que exige também uma direcção inteligente que dele tire o melhor partido.
     Desse ponto de vista a realização de Liv Ullmann, igualmente responsável pelo argumento, é sóbria e segura, sem grande inventiva - salvo um jogo de grandes planos sobre os actores na primeira parte em que os seus rostos surgem como máscaras - na sua planificação clássica, excessivamente respeitosa mesmo, mas que dá bem conta do pormenorizado cenário e dos excelentes actores. Acompanhando o desenrolar dos acontecimentos entre Miss Julie e John, a realização vem a revelar toda a sua justeza na cena final, com o ligeiro plongé sobre a protagonista e os planos de pormenor.  
                     Miss Julie Toronto Film Festival
    Este "Miss Julie" de Liv Ullmann é, pois, plenamente relevante e marca mesmo uma data no trabalho sobre a peça de Strindberg, de que preserva toda a modernidade. Com uma esplêndida Jessica Chastain, um contido mas justo Colin Farrell e uma expressiva Samantha Morton, revela-se um percuciente estudo de personagens, exploradas na sua interioridade neste texto indispensável do moderno do teatro escandinavo e europeu.
     Acusada de frieza, Liv Ullmann dá-nos uma leitura pessoal e moderna de um autor moderno e de uma personagem moderna. O tratamento das sombras pela fotografia de Mikhail Krichman é muito bom e a música fica-lhe bem. Com grandes actores, não se lhe podia pedir mais. É uma leitura pessoal, que me interessa por ser a dela, a leitura de uma actriz, argumentista e realizadora, que se serve do teatro para se explanar e o expor cinematograficamente.

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