“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Uma cidade americana


          Foi considerada a melhor série televisiva de sempre por razões que me surgem como inteiramente justificadas. Intitula-se “The Wire” (em português, “A Escuta”) e está neste momento disponível em DVD nas suas 5 épocas.                                               
            Vários motivos notabilizam esta série, policial e dramática. Um dos mais importantes é a sua construção visual, em que a criação do espaço explora todas as dimensões visuais do plano, diversos pontos de vista, escalas diferentes com uso de profundidade de campo, uma montagem rápida que respeita as pausas da acção sem deixar que se criem tempos mortos. Ora isto não joga no vazio, já que um dos outros grandes motivos (o maior motivo) de interesse desta série é a sua narrativa centrar-se nos habitantes, bairros, instituições da cidade de Baltimore, ficcionalmente surpreendidos e acompanhados de forma realista nos dramas da sua vida comum, o que confere a “The Wire” um carácter realista que não surge como forçado nem melodramático, antes como eminentemente humano e contemporâneo. Nas interpretações reside outro dos seus motivos especiais de interesse, pois estão a cargo de nomes por enquanto de segundo plano, todas eles com desempenhos notáveis de naturalidade exemplar nas figuras permanentes e nas figuras transitórias de toda a série, todas elas de grande realismo e algumas interpretadas pela própria população local.
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            Nas suas 5 épocas, entre 2002 e 2008, “The Wire” é uma série que merece ser vista pela sua qualidade invulgar, acima da média numa área em que a televisão norte-americana é em geral muito exigente. Uma qualidade tal que permite que se diga, sem a menor hesitação, que está muito acima de muitos filmes feitos todos os anos para cinema, em termos fílmicos e em termos dramáticos e humanos.
            Criado e escrito por David Simon, com a participação de escritores tão importantes como George Pelecanos e Dennis Lehane, e produzido pela HBO, “The Wire” não se detém perante temas, zonas da cidade, personagens, espaços, edifícios, situações, nem se limita a seguir no rasto do já feito, já conhecido, mesmo quando de muito boa qualidade. Não, esta série é outra coisa, no seu realismo que acolhe e completa muito bem em termos fílmicos o que foi escrito por um jornalista com larga experiência no terreno. Um realismo como este não tem precedentes em séries televisivas dramáticas, um tão perfeito e completo trabalho fílmico feito para a televisão também não. Vale, por isso, a pena ver e aprender sobre o mundo - o mundo tal como ele é, feito por gente como todos e cada um de nós - com “The Wire”, sobre o nosso mundo de hoje na bela cidade de Baltimore, Maryland, USA.                         
                      The Wire kids on sidewalk.jpg
           "The Wire" foi considerada a melhor série televisiva de sempre, e não serei eu a dizer o contrário.

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