“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

domingo, 17 de junho de 2012

Uma pérola da animação


         “Kali, o Pequeno Vampiro”, de Regina Pessoa (2012), é um curto desenho animado vertiginoso sobre um pequeno vampiro que gostaria de viver no mundo dos que o não são, soberbamente construído sobre um mundo de sombras e de luz, sobre o desejo de ascensão das trevas até à luz, a consequente luta com as trevas e a compreensão do lugar que se pode ocupar no imenso universo. Sendo a preto e branco, tem momentos de desenhos parcialmente a cores (o vermelho) perfeitamente siderantes e nele a fluidez do traço da autora gera um movimento constante e metamorfoses surpreendentes, em que o jogo da luz e das sombras, que lhe é essencial, é plenamente cinematográfico, dessa arte de luz e sombras de que a própria animação participa.
                              
             “Kali, o Pequeno Vampiro” vem encerrar uma trilogia da autora sobre a infância, em que foi antecedido por "A Noite" (1999) e "História Trágica com Final Feliz" (2005), e pode mesmo ser visto como o desejo da animação de ver reconhecido o lugar que sem dúvida lhe cabe no interior do próprio cinema. Na sua fabulosa composição, em que Regina Pessoa aperfeiçoa o seu traço pessoal, desdobra a inteligência narrativa e desenvolve o ritmo, é um contributo decisivo para que tal aconteça, com o que honra a animação e o próprio cinema, que homenageia no seu passado e no seu futuro.
              Na sua dimensão estética, audaciosa e muito conseguida, e na sua visão do submundo, do terreno e do cósmico, plenamente transmitida em termos visuais, este filme é mais uma pequena pérola da sua autora e da animação portuguesa, que por ele volta estar de parabéns.

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