“Kali, o Pequeno Vampiro”, de Regina
Pessoa (2012), é um curto desenho animado vertiginoso sobre um pequeno vampiro
que gostaria de viver no mundo dos que o não são, soberbamente construído sobre
um mundo de sombras e de luz, sobre o desejo de ascensão das trevas até à luz, a consequente luta com as trevas e a
compreensão do lugar que se pode ocupar no imenso universo. Sendo a preto e
branco, tem momentos de desenhos parcialmente a cores (o vermelho) perfeitamente siderantes e nele a
fluidez do traço da autora gera um movimento constante e metamorfoses surpreendentes, em que o jogo da
luz e das sombras, que lhe é essencial, é plenamente cinematográfico, dessa
arte de luz e sombras de que a própria animação participa.
“Kali, o Pequeno Vampiro” vem encerrar uma trilogia da autora sobre a infância, em que foi antecedido por "A Noite" (1999) e "História Trágica com Final Feliz" (2005), e pode mesmo ser visto como o desejo da animação de ver
reconhecido o lugar que sem dúvida lhe cabe no interior do próprio cinema. Na
sua fabulosa composição, em que Regina Pessoa aperfeiçoa o seu traço pessoal, desdobra a inteligência narrativa e desenvolve o ritmo, é um contributo decisivo para que tal aconteça, com o
que honra a animação e o próprio cinema, que homenageia no seu passado e no
seu futuro.
Na
sua dimensão estética, audaciosa e muito conseguida, e na sua visão do submundo, do terreno e do
cósmico, plenamente transmitida em termos visuais, este filme é mais uma pequena pérola da sua
autora e da animação portuguesa, que por ele volta estar de parabéns.
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