"Oslo, 31 de Agosto"/"Oslo, 31st august" é a segunda longa-metragem do norueguês Joachim Trier, baseada na mesma novela de Pierre Drieu La Rochelle (1893-1945) em que se inspirou Louis Malle (1932-1995) para para "Le feu follet" (1963). O filme acompanha Anders/Anders Danielsen Lie depois de ele ter concluído um processo de recuperação da toxicodependência, enquanto se encontra com amigos e procura um emprego.
Durante a primeira hora, deparamos com um Anders concentrado no seu empenhamento em manter-se limpo e procurar encontrar um papel social útil na sociedade. Deparando com perplexidades e surpresas, ele vai mostrando quem é e o que procura recuperar do seu passado - a conversa com o amigo, que começa na casa deste e prossegue no exterior, está muito bem construída em termos fílmicos e de interpretação - para fazer uma nova vida, o que nos faz manter próximos dele. Contudo, ele sente-se obrigado a falar do seu passado na entrevista para um emprego e acaba por ser ele próprio a pôr-lhe fim.
Depois dessa primeira hora Anders regressa às drogas, mergulhando na vida da cidade em que vai encontrar o meio propício para esquecer o seu propósito anterior, e os encontros que vai tendo com diversas pessoas como que assumem, sob a aparência de regresso à sua vida anterior, o tom de uma despedida. O novo dia, 31 de Agosto, é um ponto final na sua reabilitação.
Há alguma coisa de terrível banalidade do quotidiano que atravessa o filme e a personagem, o que estabelece tanto maior contraste quanto a sociedade que está em causa, a norueguesa, é uma sociedade de opulência e facilidade, o que vai tornar a solidão inultrapassável de Anders ainda mais visível e perturbadora. Sem qualquer cedência, álibi ou escapatória, o protagonista vai cumprindo um percurso terminal até ao fim. O pessimismo que o filme assim estabelece faz o seu encanto perturbador, que uma interpretação muito segura e quase alheada do protagonista realça.
A construção visual é muito boa em termos fílmicos, com permanente recurso ao fora de campo, nomeadamente sonoro, com frequentes e perturbadores silêncios e com um tratamento da cor que a torna quase indiferente, ocasionalmente próxima do preto e branco. O tom que Joachim Trier imprime ao filme é o de um desespero total, sem qualquer fuga ou trégua verdadeira, para o que é muito importante a interpretação, quase neutra mas inteiramente convincente, de Anders Danielsen Lie, e uma realização que cria o próprio vazio e abandono da personagem, sentimentos muito contemporâneos, em termos fílmicos.
A vida não é fácil, e é bom que quem está instalado no seu conforto se aperceba disso, saia do alheamento em que vive e perceba que vive lado a lado com quem sente, sozinho, o maior isolamento e um total desespero, a que ninguém, afinal, é imune e pelos quais todos somos responsáveis, embora por vezes nada possamos fazer para os contrariar. Um pessimismo muito interessante atravessa, pois, "Oslo, 31 de Agosto", que só fará bem a quem o vir na sua intransigente estética despojada e crua.
A vida não é fácil, e é bom que quem está instalado no seu conforto se aperceba disso, saia do alheamento em que vive e perceba que vive lado a lado com quem sente, sozinho, o maior isolamento e um total desespero, a que ninguém, afinal, é imune e pelos quais todos somos responsáveis, embora por vezes nada possamos fazer para os contrariar. Um pessimismo muito interessante atravessa, pois, "Oslo, 31 de Agosto", que só fará bem a quem o vir na sua intransigente estética despojada e crua.
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