Os filmes em episódios estão na moda. "7 Dias em Havana"/"7 días in La Habana" (2012) é um filme dividido em sete episódios diferentes, cada um deles decorrendo durante um dia da semana e entregue a um cineasta diferente, mas tendo em comum partirem de uma sugestão narrativa, de um argumento de Leonardo Padura, o mais conhecido escrito cubano da actualidade. Os realizadores em causa são Benicio del Toro, Pablo Trapero, Julio Medem, Elia Suleiman, Gaspar Noé, Juan Carlos Tabío (o único cubano) e Laurent Cantet, e cada um deles se apropriou à sua maneira da proposta narrativa recebida.
Eu sei que um filme como este só se torna possível graças aos esforços e às melhores intenções de todos os participantes. Por isso, embora estranhe a ausência de um maior número de realizadores cubanos, compreendo que foi com estes participantes que foi possível conferir uma maior difusão e um maior impacto internacional ao filme. Os diferentes episódios ou capítulos têm um interesse desigual, com os dois primeiros a utilizarem com felicidade referências ao próprio cinema, o terceiro e o sexto estabelecendo uma ligação narrativa em volta das mesmas personagens. Nos episódios iniciais há mesmo momentos em que a música se expande e nos agarra, nomeadamente no segundo, "Jam Session", com a presença emblemática, icónica de Emir Kusturica, enquanto nos dois últimos somos remetidos para situações pitorescas do quotidiano da cidade - o quinto episódio, mais ideossincrático, traz a assinatura de Gaspar Noé.
Agora devo ressalvar aqui o quarto episódio, "Diário de um Principiante", dirigido e interpretado pelo palestiniano Elia Suleiman ("Intervenção Divina"/"Yadon ilaheyya", 2002, "O Tempo Que Resta"/"The Time that Remains", 2009), cineasta de um enorme talento, como tem demonstrado nas suas longas-metragens e aqui exuberantemente confirma. Na verdade, "Diário de um Principiante" é uma excelente curta-metragem sobre a espera, construída com planos geométricos muito bem calibrados em que se movem ou esperam as suas escassas personagens: ele próprio no hotel, na rua, num bar, no molhe, no jardim zooloógico, mais algumas, muito escassas mas muito bem escolhidas personagens anónimas. Ora nesta espera importa não apenas o tempo da espera mas também os largos espaços vazios onde se situam as personagens em cada plano, o que no seu todo confere a este segmento uma expressividade poética rara.
Deste modo, "7 Dias em Havana" é um filme simpático, em que realizadores de fama internacional foram necessários para lhe conferir uma maior visibilidade internacional. Sem iludir o trabalho decente feito pelos outros realizadores, o quarto episódio, o de Elia Suleiman, vale bem, por si só, todo este filme e um grande número de outros filmes estreados este ano, pois ele é um cineasta muito dotado que nos seus filmes conjuga a inspiração pessoal, um gosto apurado e uma grande precisão da construção fílmica, como aqui de novo demonstra. Dito isto, como é devido, também não ignoro, nem devo ignorar, que no seu todo este filme é um forte contributo para pôr Havana de novo na moda, e só por isso ele é já importante.
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