O mais recente filme do japonês Hirokazu Koreeda, "Tal Pai, Tal Filho"/"Soshite chichi ni naru" (2013), fez-me lembrar Yasujiro Ozu. Irresistivelmente porque, como nos filmes do grande mestre, trata de questões familiares entre pais e filhos, passam comboios e, surpreendentemente, surge a câmara em posição baixa. Não acredito no acaso (sobre Koreeda, ver "Um desejo", 19 de Agosto de 2012).
Na verdade, este filme sobre recém-nascidos trocados na maternidade a partir do momento em que a troca é descoberta, contra o que seria de esperar é mais sobre os pais, em especial um dos pais, Ryota Nonomiya/Masaharu Fukuyama, com muito trabalho e uma boa posição na vida, que se questiona, do que sobre as mães, discretas e secundárias.
Direi mesmo que ao centrar-se em Ryota e Yudai Saiki/Rirî Furankî, o outro pai, comerciante, que não quer ser enganado e pensa mesmo tirar o possível proveito da situação, "Tal Pai, Tal Filho" enfrenta a solidão masculina mesmo e em especial quando reveste a figura paterna. De facto, aquilo que esclarece, do lado do primeiro, o desencontro com o filho é sobretudo a visita ao seu próprio pai, enquanto o que sobressai do lado do segundo é a sua habilidade em ser pai para os seus filhos e o culto da sua própria mãe, já morta.
O filme avança gradualmente, com grande segurança e acerto, até à cena do tribunal, em que se esclarece a razão da troca - não é a felicidade mas a infelicidade que é contagiosa -, a partir da qual enfrenta de modo mais imediato a reposição da ordem natural, biológica - a partir da fotografia em que todos sorriem, como lhes é pedido. O que não se revela fácil.
E é justamente por não procurar o lugar-comum nem a facilidade que este é mais um filme notável do seu realizador, também argumentista, que nos permite perceber melhor tudo o que de novo se passa no cinema japonês. Analisadas, escalpelizadas, as ideias de casal e de paternidade, embora não rejeitadas, levam um valente abanão contra o conformismo instalado. E a banda musical é absolutamente surpreendente.
Hirokazu Koreeda enfrenta e faz-nos enfrentar com uma serenidade japonesa, com assombrosa secura e sobriedade mas também com a perfeita noção do pormenor e da subtileza, uma situação propícia à especulação sem esboçar qualquer movimento na direcção dela, já que o que lhe interessa é a situação pessoal de cada um dos intervenientes, incluindo os filhos - em especial Keita Nonomiya/Keita Ninomiya, que se apercebe das limitações do seu pai e dele se desencontra.
Recuperando com grande felicidade a pontuação clássica (o encadeado a negro) e recorrendo a pequenos e justos movimentos de câmara, enquanto se encaminha para uma conclusão complexa, em que o espectador tem a sua parte a desempenhar, "Tal Pai, Tal Filho" é um filme admirável.
Recuperando com grande felicidade a pontuação clássica (o encadeado a negro) e recorrendo a pequenos e justos movimentos de câmara, enquanto se encaminha para uma conclusão complexa, em que o espectador tem a sua parte a desempenhar, "Tal Pai, Tal Filho" é um filme admirável.
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