“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

quinta-feira, 30 de abril de 2015

O relógio roubado

    "Pela Rainha"/"Queen and Country" (2014) joga na obra de John Boorman com "Esperança e Glória"/"Hope and Glory" (1987), passado durante a II Guerra Mundial em Londres durante os bombardeamentos alemães. Nele encontramos o seu jovem protagonista, Bill Rohan/Callum Turner nove anos depois, durante os treinos militares para a Guerra da Coreia. 
                      Caleb Landry Jones and Tamsin Egerton is Queen and Country.
    Com uma parte militar muito longa e importante, em que se estabelece o centro narrativo à volta do desaparecimento do relógio do regimento, o filme encontra o seu melhor na parte que decorre em casa de Bill, que vem estabelecer um contraponto para ela. Aí, acompanhado pelo seu camarada Percy Habgood/Caleb Landry Jones, ele vai reencotrar a irmã, Dawn/Vanessa Kirby, e receber Ophelia/Tamsin Egerton, o que juntamente com os segredos da sua mãe, Grace/Sinéad Cusack, dá um tom diferente à narrativa.
     O apontamento sobre a morte do rei e a coroação da rainha é apenas curioso e o regresso da parte castrense inevitável mas em tom morno, apenas para resolver o enigma do roubo do relógio.
                     
     Eu percebo o sentido que o filme faz na obra do cineasta, reconheço-lhe mesmo algum mérito, mas o tom quase caricatural suprime o que de maior interesse se podia apesar de tudo encontrar em "Esperança e Glória". Com argumento do próprio John Boorman, "Pela Rainha" não desmerece na sua obra, vasta e multifacetada, em que o melhor continua, contudo, a estar no seu início americano: "À Queima Roupa"/"Point Blank" (1967), com Lee Marvin e Angie Dickinson, "Duelo no Pacífico"/"Hell in the Pacific", com Lee Marvin e Toshirô Mifune" (1968), "Fim-de-Semana Alucinante"/"Deliverance" (1972).
     E é claro que em comparação com "King & Country", de Joseph Losey (1964), filme inglês de um cineasta americano, nem por sombras. 

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