O filme de João Botelho "A Arte da Luz Tem 20.000 Anos" (2014) cumpre uma missão essencial, que é a de divulgar metodicamente a arte rupestre em território português, no Vale do Côa. Com propósito inteiramente didáctico e de divulgação, o cineasta português constrói o seu filme como uma visita guiada a Joana Botelho por quem sabe, o coordenador do Parque Arqueológico e do Museu do Côa, António Martinho Baptista, e permite-nos ficar a conhecer em pormenor, em imagens, as famosas gravuras rupestres.
Como quem não vê é como quem não sabe, com este filme muito bem contextualizado geograficamente ficamos todos, o que já visitaram o sítio e os que ainda o não visitaram, a saber o que são concretamente as figuras desenhadas, gravadas na rocha que tanta celeuma levantaram em Portugal na última década do Século XX, o que elas significam e representam de interesse que excede o mero interesse nacional para se alargar ao de toda a humanidade.
A arte rupestre existente em Espanha ou em França, por exemplo, estava já suficientemente estudada e esclarecida, o que foi muito importante, e independentemente de filmes científicos mais pormenorizados este filme de João Botelho sobre a existente em Portugal tem uma importância fundamental por ser feito por um português com portugueses que, tropeçando por vezes nas palavras, esclarecem sobre o significado de um mergulho na vertigem do tempo.
Seria de espantar que, existindo noutros locais, não existisse arte rupestre relevante em Portugal, e talvez que o Século XX português tenha culminado na sua descoberta, inserindo de uma vez por todas o país no mundo que descobriu e de que não se pode dissociar. A ligação ao cinema, que estava já explorada pela investigação paleo-antropológica noutros países (1), fica também aqui demonstrada, embora eu tivesse preferido imagens mais próximas e menos displicentes, descarregando o principal encargo demonstrativo nas palavras.
Seja como for, "A Arte da Luz Tem 20.000 Anos" de João Botelho é um filme indispensável para mostrar e demonstrar como a arte desde sempre acrescentou à realidade e à humanidade, justamente a questão que o cineasta trabalha com grande pertinência e actualidade, embora o enquadramento do final, das imagens que ficaram submersas, me tenha parecido forçadamente vistoso e menos esclarecedor (sobre João Botelho ver "Elogio do sensível", de 30 de Maio de 2013, "Grande fôlego", de 19 de Setembro de 2014, e "Agora completo", de 19 de Outubro de 2014).
Nota
(1) Cf. Marc Azéma, "La Préhistoire du cinéma - Origines paléolithiques de la narration graphique et du cinématographe..." (Paris: Éditions Errance, 2011).
Nota
(1) Cf. Marc Azéma, "La Préhistoire du cinéma - Origines paléolithiques de la narration graphique et du cinématographe..." (Paris: Éditions Errance, 2011).
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