Inédita comercialmente em Portugal, a longa-metragem de estreia do alemão Jan Ole Gerster, "Oh Boy" (2012), é um filme a preto e branco muito bom e interessante, que dá conta de uma nova dinâmica no novo cinema novo alemão sem deixar por isso de encontrar pontos de referência no passado.
Visto no Arte na semana em que morreu Günter Grass (1927-2015), o filme apresenta um olhar novo e descomprometido mas justo sobre Berlim na actualidade entre os mais novos, eles e elas presas das suas próprias obsessões de momento que, marcando-os, os levarão a um tempo futuro. Aqui nada de vistoso, de espectacular, apenas uma juventude comum, batida e credível, que encontra nos mais velhos obstáculos que tem de vencer, até que Nico Fischer/Tom Schilling, o protagonista, encontra no final um "old timer" que, ao balcão de um bar, entre memórias avulsas lhe diz: "Eu não vos compreendo".
O preto e branco está muito bem explorado e trabalhado, nomeadamente na luz e no tratamento de personagens jovens, esbeltas e bonitas, que contrastam narrativamente com Julika Hoffmann/Friederike Kempter, antiga colega de Nico num tempo em que era conhecida por "a gorda". Tão à deriva como as personagens de "Ao Correr do Tempo"/"Im Lauf der Zeit", de Wim Wenders (1976), sem o cinema ambulante mas com o teatro presente Nico percorre em 24 horas Berlim como eles percorriam a Alemanha, à procura do que não encontra senão de passagem.
Os tempos correm céleres também na Alemanha actual, de certa maneira os problemas repetem-se mas sempre com gente nova que pensa vivê-los pela primeira vez - e de facto os vive pela sua própria única vez. Também autor do argumento, como Wenders o era naquele seu grande filme inicial também ele a preto e branco, Jan Ole Gerster dá muito boa conta de si com uma dinâmica visual justa, entre o estático e o móvel, entre o próximo e o distante, com uma excelente composição do plano e uma música sempre justa.
De tal forma que existe algo de comovente nas personagens jovens do filme e na separação final de Nico do "old timer" que já não os compreendia. Tudo seco, limpo e límpido, como quando se olha pela primeira vez, com actores em estado de graça como Rüdiger Vogler e Hanns Zischler jovens eram no citado filme de Wim Wenders. E de repente tudo faz sentido no novíssimo cinema alemão.
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