Perante a indiferença geral, estreou em Portugal "Diário de Uma Criada de Quarto"/"Journal d'une femme de chambre", do francês Benoît Jacquot (2015), baseado no romannce de Octave Mirbeau que tinha já sido levado ao cinema de forma superior por Jean Renoir (1946) e Luis Buñuel (1963). Com adaptação do realizador e de Hélène Zimmer, este um filme que se impõe por si próprio, ao nível dos anteriores.
A excelente Léa Seydoux confere todo o carácter a Célestine em todas as situações, e o filme não a larga de princípio a fim, como era devido, enquanto Vincent Lindon interpreta Joseph, o jardineiro, sempre sóbrio na sua violência contida. O realizador acompanha muito bem o percurso penoso mas proveitoso dela, dando-lhe espaço e tempo para se movimentar - e os corpos são de novo muito importante neste filme de Jacquot, passado numa província francesa muito bem caracterizada em termos cenográficos, de guarda-roupa e de actores, de que destaco em especial Mélodie Valemberg como Marianne.
A fotografia a cores de Romain Winding assume traços impressionistas inteiramente justificados e conseguidos, o que confere ao filme um tom de época que, com as alusões francesas da época (os judeus, o caso Dreyfus) lhe fica bem e a música de Bruno Coulais acompanha ao mesmo nível. Os diálogos de Célestine com Joseph, em especial o que decorre em grandes-planos, e de Célestine com Marianne, em especial o último, conferem um muito claro naturalismo a um filme em que ele se encontra sempre presente nas relações deles com os senhores.
Conquistada por Joseph como nunca o fora antes por nenhum dos seus patrões e donos, depois de um longo percurso entre diversas casas e patrões em que se vão repetindo situações e abusos Célestine dispõe-se a segui-lo no final até ao fim, até ao crime, e a total falta de ambiguidade deles mostra muito bem como puderam fazer cair os patrões ociosos e ricos.
Com Jean-Pierre e Luc Dardenne como co-produtores e Léa Seydoux ao nível, e em excesso, de Paulette Goddard e Jeanne Moreau, "Diário de Uma Criada de Quarto" de Benoît Jacquot é um excelente filme que chama de novo a atenção para o nome deste destacado cineasta contemporâneo, aqui de regresso ao seu melhor (sobre ele, ver "Os esquecidos", de 7 de Abril de 2013, "Desperdício", de 19 de Setembro de 2014, e "Sinuoso", de 11 de Janeiro de 2015).
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