Eleanor Rigby é o título de uma canção dos Beatles de 1966, que serviu de inspiração para lhe dar um nome aos pais da protagonista de "O Desaparecimento de Eleanor Rigby/"The Desappearance of Eleanor Rigby", a trilogia de estreia escrita e realizada por Ned Benson, constituída por "Ele"/"Him", "Ela"/"Her" (2013) e "Eles"/"Them" (2014).
Ao desdobrar os pontos de vista de El/Jessica Chastain e Conor Ludlow/James McAvoy, o casal perante uma "estrela cadente" de filho, o cineasta expande o presente que é dado num único filme no terceiro capítulo por forma a aproveitar a relação dela com os seus pais, Mary Rigby/Isabelle Huppert e Julian RigbyWilliam Hurt, e dele com o seu pai, Spencer Ludlow/Ciarán Hinds, além de outros detalhes respeitantes às suas actividades respectivas (ela retoma os estudos, ele continua a explorar um restaurante), à relação deles.
Sobressaem o diálogo único dos pais sobre o filho perdido, no final, o diálogo dela com o pai em que este conta o momento mais difícil da sua vida, quando ela era criança, e o diálogo dele com o pai em que este lhe fala sobre o neto que perdeu, num todo que tem de mais atraente tentar captar um dia a dia comum na grande cidade, New York, onde foi rodado.
De resto, ao procurar a vida dos pais quase sem referência à morte do filho Ned Benson segue o caminho certo para mostrar no presente o não mostrado do passado como rasto que deixou, perene e simbólico. Sem ser comédia romântica, que por vezes aflora, "O Desaparecimento de Eleanor Rigby" é um melodrama inteligente e bem gerido em que "Ele" é o capítulo mais bem construído, "Ela" o mais sugestivo e "Eles" o menos convincente na sua maior duração (e com alguns desacertos técnicos).
Sem se perder em efeitos formais, com dois grandes actores e grandes secundários esta uma estreia auspiciosa em que o novo cineasta mostra ao que vem e saber o que faz, como demonstra a construção dramática de cada filme e o seu comum final. Redondo. Claro que a repetição de imagens e cenas entre filmes, que os fazem funcionar como um puzzle, embora deliberada é redundante, e que um único filme poderia muito bem resolver a questão. A ambição do projecto compreende-se no seu excesso melodramático, que envolve, porém, os seus inelutáveis limites - experimentem ver esta trilogia na ordem inversa que percebem melhor a escassa utilidade do exercício.
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