“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

domingo, 17 de janeiro de 2016

De um dia para o outro

    "Sítio Certo, História Errada"/"Ji-geum-eun-mat-go-geu-ddae-neun-teul-li-da", do sul-coreano Hong Sang-soo (2015), é um filme belíssimo e também enigmático que joga com o que, de um dia para o seguinte, se passa entre um realizador de cinema famoso, Ham Cheon-soo/Jeong Jae-yeong, e a jovem Yoon Hee-jeong/Kim Min-hee na cidade a que ele se desloca para apresentar um filme seu e fazer uma palestra.                       
                    Sítio Certo História Errada       
      Na primeira parte assistimos à história contada pelo próprio Ham, amável, correcta, com a sua imagem conforme com a ideia que ele forma sobre si próprio. Gostaríamos, por certo, que essa fosse a história certa, até porque nessa primeira parte o filme se desdobra em planos longos e em geral fixos, muito à maneira do cineasta, com diálogos e uma refeição em grupo.
       Porém, a segunda parte vem, nos mesmos locais, apresentar uma outra perspectiva entre as mesmas personagens, contar uma outra história de um ponto de vista caso a caso reelaborado com os diálogos e as situações. Gostaria de poder dizer que esta segunda parte, com uma imagem desconforme do realizador Ham, não é a verdadeira, não conta a história verdadeira, mas não é esse o sentido que Hong Sang-soo imprime ao seu filme.
                    Sítio Certo, História Errada
    De facto, ele brinca com o seu filme, e a imagem pública de um realizador de cinema confrontada com a imagem que ele faz de si próprio não deixa dúvidas de que o segundo ponto de vista e a segunda história, não contada por ele, se sobrepõe ao primeiro e à primeira história, que ele narra. De comum, a beleza feminina e a embriaguês, além do cinema, evidentemente.
      Jogando em cinema o jogo do cinema, Hong Sang-soo volta a demarcar como seu um espaço de inteligência e subtileza, lúdico e crítico, deixando, no fundo, ele que não é inocente, que cada um acredite naquilo que quiser. (Sobre o grande mestre do cinema sul-coreano, ver "Pintor de nuvens", 4 de Novembro de 2012, "Três vezes Anne", 10 de Junho de 2013, e "O sonho inquieto", de 30 de Abril de 2014.)

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