Recuperando as personagens da sua terceira longa-metragem, "Comment je me suis disputé... (ma vie sexuelle)", 1996, Arnaud Desplechin regressa à sua Roubaix natal para "Três Recordações da Minha Juventude"/"Trois souvenirs de ma jeunesse" (2015), desta feita com Julie Peyr como co-argumentista. O resultado é notável como passo a explicar.
De regresso na actualidade de uma missão diplomática no estrangeiro, Paul Dédalus/Mathieu Amalric é levado a duas recordações breves, uma da infância a outra da adolescência, e uma longa, sobre os seus amores com Esther/Lou Roy-Lecollinet quando jovem de 19 anos/Quentin Dolmaire. Salvo o apontamento muito curioso com Claverie/André Dussollier no segundo episódio, "Minsk", é o terceiro, "Esther", o que maior interesse apresenta.
Recuperando o estilo das viagens entre uma cidade de província e Paris, que segundo Gilles Deleuze caracterizou a nouvelle vague francesa, este longo terceiro episódio de "Três Recordações da Minha Juventude" conduz-nos ao coração de uma relação permanentemente interrompida, permanentemente recomeçada, enquanto Paul e Esther prosseguem os seus estudos e, quando separados - ele em Paris, ela em Roubaix -, seguem cada um o seu rumo sentimental e sexual embora continuem a corresponder-se por carta.
Se
estão bem vistos os estudos em antropologia dele, as relações na
pequena comunidade de origem são especialmente interessantes e bem
dadas, embora a meu ver o melhor seja a leitura das cartas de cada um
deles para a câmara, muito sugestiva e conseguida. A elisão da morte da professora de Paul está muito bem, como estava no primeiro episódio, "Infância", a elisão da morte da sua mãe, e a cena no cemitério em que ele visita a campa desta não destoa.
Além disso, este terceiro episódio, coincidente no tempo com a queda do muro de Berlim, apresenta, no seu esquema sentimental e até estético, e sobretudo quanto mais se aproxima do seu termo, manifestas influências godardianas dos anos 60.
Além disso, este terceiro episódio, coincidente no tempo com a queda do muro de Berlim, apresenta, no seu esquema sentimental e até estético, e sobretudo quanto mais se aproxima do seu termo, manifestas influências godardianas dos anos 60.
O epílogo está bem visto e muito bem interpretado por Mathieu Amalric, embora aqui deva destacar os excelentes desempenhos de Lou Roy-Lecollinet e Quentin Dolmaire em todo o terceiro episódio. A fotografia de Irina Lubtchansky é muito boa, ela também, enquanto a música e as escolhas musicais de Grégoire Hetzel e Mike Kourtzner se revelam sempre justas. Arnaud Desplechin continua a ser um cineasta sério e muito bom, que me interessa e aconselho (sobre ele ver "Um cinema da exigência", de 11 de Fevereiro de 2012, e "Mal da alma", de 15 de Julho de 2014).
Sem comentários:
Enviar um comentário