"Rumo à Outra Margem"/"Kishibe no tabi", de Kiyoshi Kurosawa (2015), é um filme supreendente, radical e muito bom. Surpreende pela sua radicalidade de trazer um morto, Yusuke/Tadanobu Asano, para junto dos vivos, a sua mulher Mizuki/Eri Fukatsu, com desembaraço e grande pertinência narrativa.
O que está em causa é o regresso normal de um morto para junto dos que lhe foram próximos e ainda o não esqueceram três anos após a sua morte. A mulher aceita-o e, apesar de inicialmente não poder fazer com ele "aquilo", condu-lo pelo caminho da memória pessoal em que ele próprio se empenha.
O filme não tem grandes artifícios ou efeitos formais, salvo quando eles finalmente vão fazer "aquilo" (o que é muito bem resolvido em contracampo para as costas deles), e resolve-se com grande simplicidade na narrativa das questões mais difíceis. Está muito bem o encontro dela com a antiga amante dele, Tomoko Matsuzaki/Yû Aoi, tal como está muito bem o regresso dele a uma aldeia onde tinha ensinado e volta a ensinar - sobre o zero e o infinito. Mais complicado, mesmo formalmente, é o regresso de um outro morto, o pai de Ryota/Daiki Fujino, o rapaz da queda de água e da sua tradição, "o caminho dos mortos", um morto não apaziguado.
O motivo musical do "Anjo da Harmonia" está muito bem resolvido - "procura o teu próprio som" - e a resposta da antiga amante de Yusuke à mulher dele, Mizuki, "que mais se pode querer", encerra toda uma filosofia da vida.
Em espaços pouco povoados, espaços vazios e espaços muito preenchidos, em interiores e em exteriores, com seriedade excessiva que corresponde ao seu tema este "Rumo à Outra Margem" de Kiyoshi Kurosawa confirma o cineasta como um dos grandes nomes do cinema japonês contemporâneo, o que, contra o seu início, o final do filme, em que tanto Yusuke como Mizuki saem do espaço do plano e do filme, plenamente certifica na linha do seu anterior "Sonata de Tóquio"/Yokyo Sonata" (2008).
Entre fantasma e fantasia, neste filme está presente de forma explícita uma antiga tradição de uma cultura muito antiga. Embora por enquanto o cineasta não esteja, como não podia estar, à altura dos grandes clássicos do cinema do seu país (Kenji Mizoguchi, Yasujirô Ozu, Mikio Naruse, Akira Kurosawa), devemos recebê-lo e aceitá-lo e apreciá-lo por aquilo que é e faz.
O que está em causa é o regresso normal de um morto para junto dos que lhe foram próximos e ainda o não esqueceram três anos após a sua morte. A mulher aceita-o e, apesar de inicialmente não poder fazer com ele "aquilo", condu-lo pelo caminho da memória pessoal em que ele próprio se empenha.
O filme não tem grandes artifícios ou efeitos formais, salvo quando eles finalmente vão fazer "aquilo" (o que é muito bem resolvido em contracampo para as costas deles), e resolve-se com grande simplicidade na narrativa das questões mais difíceis. Está muito bem o encontro dela com a antiga amante dele, Tomoko Matsuzaki/Yû Aoi, tal como está muito bem o regresso dele a uma aldeia onde tinha ensinado e volta a ensinar - sobre o zero e o infinito. Mais complicado, mesmo formalmente, é o regresso de um outro morto, o pai de Ryota/Daiki Fujino, o rapaz da queda de água e da sua tradição, "o caminho dos mortos", um morto não apaziguado.
O motivo musical do "Anjo da Harmonia" está muito bem resolvido - "procura o teu próprio som" - e a resposta da antiga amante de Yusuke à mulher dele, Mizuki, "que mais se pode querer", encerra toda uma filosofia da vida.
Em espaços pouco povoados, espaços vazios e espaços muito preenchidos, em interiores e em exteriores, com seriedade excessiva que corresponde ao seu tema este "Rumo à Outra Margem" de Kiyoshi Kurosawa confirma o cineasta como um dos grandes nomes do cinema japonês contemporâneo, o que, contra o seu início, o final do filme, em que tanto Yusuke como Mizuki saem do espaço do plano e do filme, plenamente certifica na linha do seu anterior "Sonata de Tóquio"/Yokyo Sonata" (2008).
Entre fantasma e fantasia, neste filme está presente de forma explícita uma antiga tradição de uma cultura muito antiga. Embora por enquanto o cineasta não esteja, como não podia estar, à altura dos grandes clássicos do cinema do seu país (Kenji Mizoguchi, Yasujirô Ozu, Mikio Naruse, Akira Kurosawa), devemos recebê-lo e aceitá-lo e apreciá-lo por aquilo que é e faz.
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