“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Uma excelente notícia

    A edição portuguesa de "Um Melro Dourado, Um Ramo de Flores, Uma Colher de Prata", a acompanhar a edição DVD de "No Quarto da Vanda", de Pedro Costa, é um acontecimento editorial que deve ser aqui devidamente assinalado e saudado.
     Da responsabilidade da Orfeu Negro e da Midas Filmes (2012) na sua edição portuguesa, este é um livro, no original francês datado de 2008 (Paris, Capricci), construído sobre o modelo de entrevista com o cineasta, que tantos e tão bons frutos tem dado, e é acompanhado por uma montagem de imagens e texto do americano Andy Rector. A entrevista, conduzida por Cyril Neyrat, é motivo para que Pedro Costa, que fez também a selecção das fotografias, se explique sobre as origens dos seus filmes e da sua visão do cinema e do mundo, o que se torna pretexto para revelações muito curiosas, e até agora inéditas em português, que são muito esclarecedoras e podem surgir como inesperadas. De entre essas revelações destaco a referência circunstanciada do cineasta às suas principais influências, cinematográficas e extra-cinematográficas, ao seu método de trabalho, ao cinema clássico americano. Momento fundamental, decisivo mesmo, para desfazer especulações, este livro é aproveitado para estabelecer a verdade sobre Pedro Costa e os seus filmes e, simultaneamente, para alimentar a sua própria mitologia pessoal.
                                
      Não devo aqui omitir duas coisas. Primeiro, que o livro original sobre este importante cineasta português contemporâneo é francês, e não português, como poderia parecer óbvio. Segundo, que para o futuro não vai ser possível estudar o cinema de Pedro Costa em Portugal sem conhecer este livro - nem em Portugal nem nos países de língua oficial portuguesa.
     Resta-me felicitar a Orfeu Negro, que ao cineasta já dedicara o muito importante "Cem Mil Cigarros - Os Filmes de Pedro Costa", com coordenação de Ricardo Matos Cabo (2009), por mais este muito relevante contributo para o estudo e o conhecimento do cinema, e obviamente aconselhar a todos que leiam este livro e vejam ou revejam o filme, fundamental, que o acompanha. Sem qualquer hesitação ou restrição, pois Pedro Costa é um dos mais importantes cineastas contemporâneos a nível mundial e, no fundo, este livro, que é além do mais um belo livro, é dele. A editora está, muito justamente, no primeiro lugar da edição portuguesa mais exigente sobre cinema.

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