"Anna Karenina" é a quinta longa-metragem de Joe Wright (2012), um realizador inglês que começou no cinema com adapatações conseguidas, "Orgulho e Preconceito"/"Pride & Prejudice" (2005), baseado em Jane Austen, e "Expiação"/"Atonement" (2007), baseado em Ian McEwan, ambos com Keira Knightley que aqui regressa no papel da protagonista.
Levar ao cinema uma obra-prima da literatura russa e mundial da segunda metade do Século XIX não se antevia tarefa fácil ou então poderia ser considerado fácil de mais se encarado apenas do lado da reconstituição de época. O cineasta sai-se bastante bem por adoptar o recurso sistemático à cena teatral, ao palco visto à distância desde o início e com recorrências regulares mesmo quando não seria de esperar, como a corrida de cavalos, e no equilíbrio assim criado o filme impõe um certo distanciamento que quebra a fascinação imediata por personagens e uma narrativa conhecidas, ao mesmo tempo que inculca a ideia de que "o mundo é um palco".
Sem afastar inteiramente o lado faustoso, sumptuoso mesmo do seu filme, antes jogando com ele, Joe Wright centra-se muito bem nas personagens de maneira a conferir-lhes toda a credibilidade que a narrativa literária lhes atribui, remetendo para ambientes sociais precisos restituídos, eles também, com rigor. Nestas condições, tudo se jogava ainda e sempre, como é de uso no cinema inglês, no trabalho dos actores, que estão todos eles muito bem com destaque para Keira Knightley, que encarna com o rigor exigido a complexidade psicológica de Anna Karenina, Jude Law excelente como Karenin, e Aaron Taylor-Johnson como Conde Vronsky.
Com audácia fílmica e equilíbrio, o cineasta consegue ultrapassar a simples leitura melodramática de base e aproximar-se da tragédia passional de uma mulher casada que se apaixona por um homem mais novo, uma paixão socialmente condenada. Podia ter ido mais longe se tivesse arriscado ainda mais? Talvez, mas tal como está "Anna Karenina" de Joe Wright é um bom filme, tanto melhor quanto evita o excesso melodramático preferindo-lhe uma contenção de tom que, ao mostrar, seduz sem esmagar, o que é sempre o risco na adaptação de obras célebres ao cinema.
Assim se confirma a boa impressão que o cineasta tinha deixado ficar com os seus dois primeiros filmes, especialmente com uma certa subtlileza no segundo, uma subtileza que aqui volta a ter lugar graças ao argumento de Tom Stoppard sobre o romance de Leon Tolstoi, às felizes e ousadas opções cenográficas do realizador e à montagem, de novo inventiva no limite do excesso. Apesar disso, de tão controlado e fiel ao romance original este é um filme que confere excessiva rigidez às personagens e situações, com a rapidez da montagem, que aumenta com o avanço da narrativa, a compensar o recurso ao teatro por forma a quase fazer esquecê-lo, originando um padrão tão diversificado que se torna ligeiro em prejuízo do aprofundamento de certos momentos cruciais.
Mas se na Anna Karenina de Keira Knightley há algo que nos fala ainda hoje para além do tempo, do espaço e da história é porque Joe Wright e a sua equipa tiveram o mérito de respeitar uma obra ímpar da literatura mundial, emblemática do final da Rússia czarista. Entre o distanciamento e a montagem no limite tudo se torna, talvez, mais claro: para ela era "demasiado tarde", como para os heróis dos filmes de Luchino Visconti, e o plano final, estarrecedor, estabelece o comentário da Lei do Pai a fazer ainda hoje.
Mas se na Anna Karenina de Keira Knightley há algo que nos fala ainda hoje para além do tempo, do espaço e da história é porque Joe Wright e a sua equipa tiveram o mérito de respeitar uma obra ímpar da literatura mundial, emblemática do final da Rússia czarista. Entre o distanciamento e a montagem no limite tudo se torna, talvez, mais claro: para ela era "demasiado tarde", como para os heróis dos filmes de Luchino Visconti, e o plano final, estarrecedor, estabelece o comentário da Lei do Pai a fazer ainda hoje.
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