A sétima longa-metragem do francês Emmanuel Mouret, "A Arte de Amar"/"L'art d'aimer" (2011), é um filme plenamente convincente do seu talento. Também argumentista, o cineasta encena o que me apetece chamar, a partir de Eric Rohmer, "um conto moral" com a inspiração de Jean-Luc Godard.
O que aí está em causa é a troca de identidade mas também física entre duas mulheres, duas amigas, Amélie/Judith Godrèche e Isabelle/Julie Depardieu, junto do apaixonado da primeira, Boris/Laurent Stocker. Outras personagens preenchem o quadro narrativo, mas este acaba por se concentrar nesse estranho triângulo, suscitado por Amélie e aceite por Isabelle no desconhecimento de Boris.
Emmanuel Mouret tem talento e subtileza na construção não apenas narrativa mas visual e sonora do seu filme, que nos deixa mesmo estarrecidos pela sua simplicidade, candura e evidência. Explorando muito bem os momentos de hesitação que, em suspensão, pairam entre as suas personagens, ele consegue tornar cativante uma comédia com todos os mecanismos à mostra, mantendo-nos sempre interessados e comentando filosoficamente o que acontece com expressões lapidares, tipo "comédias e provérbios" de Eric Rohmer, inseridas no filme à maneira dos capítulos dos filmes de Godard.
Não, nada é evidente onde tudo é evidenciado contra o desconhecimento de Boris, e a ideia de duas mulheres assume ressonâncias hitchcockianas em termos muito simples e... bem, embaraçosos. E se Paris é a cidade é porque ela continua a ser a capital de um certo entendimento do cinema em termos sempre novos, renovados.
Não, nada é evidente onde tudo é evidenciado contra o desconhecimento de Boris, e a ideia de duas mulheres assume ressonâncias hitchcockianas em termos muito simples e... bem, embaraçosos. E se Paris é a cidade é porque ela continua a ser a capital de um certo entendimento do cinema em termos sempre novos, renovados.
A voz-off narrativa preenche muito bem a sua função, as actrizes jogam-se em semelhança na sua diferente identidade até chegarem à indiferente natureza feminina, eminentemente trocável em nome da arte de amar, perante a qual os homens são cegos. Falta alguma coisa ainda em "A Arte de Amar" de Emmanuel Mouret? Falta, a meu ver, a presença da morte, para quebrar o tom de comédia que o filme faz questão de exibir. Salvo isso, e mesmo assim respeitando a vontade do realizador, estamos entendidos quanto a mais este nome a ter em conta no actual cinema francês.
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