Também na edição deste ano do Indie Lisboa pude assistir pela primeira vez a "3X3D", de Peter Greenaway, Edgar Pêra e Jean-Luc Godard (2013), uma segunda encomenda da Capital Europeia da Cultura - Guimarães 2012, que como a anterior (ver "Um filme histórico", 15 de Março de 2014) dá conta do investimento deste importante evento cultural na área do cinema. E considero este um filme histórico por ser a primeira experiência em 3D dos cineastas convidados.
Quero começar por observar que a sala do Campo Pequeno em que o filme passou me pareceu pequena para o processo, gerando mesmo ocasionais problemas com a projecção, especialmente sensíveis no primeiro segmento, o de Peter Greenaway, justamente o mais inventivo em termos visuais por sobrepor imagens diferentes, e também textos escritos, distribuídos por diferentes zonas do ecrã. Ora "Just in Time" é um mergulho assombroso na história da própria cidade de Guimarães e na de Portugal, feito em termos de grande imaginação e criatividade visual e sonora numa duração muito breve. Aí nos ressurge um grande cineasta no seu melhor, justificando inteiramente o uso do 3D, em que a sua é mesmo uma das melhores experiências que conheço.
Edgar Pêra faz uma brincadeira visual muito aproprida e muito ao seu estilo, em que, a preto e branco e brincando com a cor, revisita a história do cinema e constrói a história do seu espectador - o seu segmento intitula-se "Cinesapiens". Ele é um dos mais desembaraçados e inventivos cineastas portugueses da actualidade e faz um uso inventivo e divertido do 3D num espaço a maior parte do tempo fechado, com recurso ao seu actor-fétiche, Nuno Melo. Que eu saiba, este é o primeiro trabalho neste formato feito por um cineasta português, e ninguém melhor do que Edgar Pêra o poderia fazer, sempre com a sua irreverência de dizer coisas sérias com ar de brincadeira.
O segmento de Jean-Luc Godard, um cineasta lendário, constrói-se como uma espécie de apostilha ao seu "Histoire(s) du Cinéma" (1988-1998), pois faz larga alusão cruzada à história do cinema e à história do próprio Século XX. Se o 3D não lhe é indispensável, com grande talento o cineasta usa-o de forma experimental e por vezes conseguida sobre um pano de fundo de "Les 3 désastres", como de intitula o seu segmento. E ver hoje aqules cineastas e aqueles excertos de filmes é memorável e histórico, em 3D ou sem ele.
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Foi para mim, em qualquer caso, uma descoberta ver como estes três cineastas trataram o 3D, pelo menos no caso de Peter Greenaway de uma forma inteiramente nova. Felicito, pois, João Lopes, responsável pela programação da Capital Europeia da Cultura - Guimarães 2012 na área do cinema, e o produtor Rodrigo Areias pelos filmes que proporcionaram, e faço votos para que também este filme tenha a divulgação que sem dúvida merece.
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