O sul-coreano Bong Joon Ho é bem conhecido por "The Host - A Criatura"/"Gwaemul" (2006) e "Mother - Uma Força Única"/"Madeo" (2009), filmes que davam conta de um talento invulgar que "Shaking Tokyo!", segmento de "Tóquio!"/"Tokyo!" (2008), veio confirmar. O seu último filme em data, a produção internacional "Snowpiercer - O Expresso do Amanhã"/"Snowpiercer" (2013), é um filme de ficção-científica mais ambicioso em que ele se move com perfeito à-vontade num contexto diferente, potencialmente mais indiferenciado.
Baseado numa banda-desenhada francesa, "Le Transperceneige", de Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette, "Snowpiecer - O Expresso do Amanhã" consegue aproveitar os valores de produção de que dispôs para uma obra intransigentemente pessoal que, conservando traços de inspiração do seu ponto de partida em termos visuais, se cumpre como ficção-científica cinematográfica em termos justos de elevada qualidade.
Tirando partido da concentração espacial num comboio que se move a alta velocidade em 2031 e da distribuição dos seus passageiros no seu interior (a locomotiva do comando, a parte de trás dos passageiros dominados), uma vez exposto com clareza o seu programa narrativo o cineasta supera-se na parte final, em que todos os dados narrativos são expostos com toda a crueza (no diálogo de Curtis e Minsoo) e resolvidos de vez.
Os lugares comuns da ficção-científica são evitados em favor dos termos de uma exploração impiedosa dos dominados entre os sobreviventes de uma catástrofe ecológica por um senhor invisível situado na locomotiva, poderosamente vigilante e guardado. Com um cast internacional em que avultam Chris Evans como Curtis, que não tem vocação para liderar, Kang-ho Song como Namgoong Minsoo, personagem complexa e fundamental, John Hurt como Gilliam, o ambíguo, Tilda Swinton (extraordinária) como a repulsiva Mason e Ed Harris como Wilford, o diabólico líder, o cineasta constrói um filme de acção implacável em que a fraqueza se paga e nenhum dos lados cede onde não deve ceder.
A música de Marco Beltrami imprime um dinamismo sonoro à parte visual em termos que permitem entender completamente a violência implacável da acção envolvida. Mas o que decididamente mais me agrada em "Snowpiecer - O Expresso do Amanhã" são as marcas de inspiração na banda desenhada que Bong Joon Ho conserva, preserva e amplia de forma exemplar, num cruzamento que manifestamente mostra ser uma aposta ganha.
Não há esperança? Não, não há esperança nenhuma, nem na narrativa nem nas cores da fotografia de Kyung-pyo Hong, de um assombroso rigor, neste filme em que o cineasta volta a ser co-argumetista. Apenas o dever de cada um permanecer fiel a si próprio até ao fim. Lição maior só ao alcance dos muito grandes.
Não há esperança? Não, não há esperança nenhuma, nem na narrativa nem nas cores da fotografia de Kyung-pyo Hong, de um assombroso rigor, neste filme em que o cineasta volta a ser co-argumetista. Apenas o dever de cada um permanecer fiel a si próprio até ao fim. Lição maior só ao alcance dos muito grandes.
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