"King of Devil's Island"/"Les révoltés de l'ile du diable"/"Kongen av Bastoy", do norueguês Marius Holst (2010), é um excelente filme, duro e impiedoso, sobre um centro para jovens delinquentes na ilha de Bastoy, na costa ao largo de Oslo, corria o ano de 1915, baseado em factos reais. Inédito em Portugal, vale a pena deter-me aqui sobre ele.
Os jovens internados são tratados por números de código, C1/Trond Nilssen, C5/Magnus Langlete, C19/Benjamin Helstad entre muitos, todos os outros, e acompanhamos os dois últimos desde a sua chegada. Sob as ordens do Director Bestyreren/Stellan Skarsgârd e do encarregado Brathen/Kristoffer Joner, submetidos a uma disciplina rígida e sujeitos a castigos corporais a vida deles torna-se muito difícil. C19, que não sabe ler nem escrever e foi tripulante de um baleeiro, conta a C1 uma história de mar, navios e baleias, que este redige - memórias de "Moby Dick", de Herman Melville e John Huston (1956).
As condenadas tentativas de fuga sucedem-se, até que no final rebenta a revolta generalizada suscitada sobretudo pelo comportamento de Brathen com C5, que levara este ao suicídio.
Interpretado maioritariamente por jovens em início de carreira, alguns deles com passagem pela prisão, este filme detém-se e demora-se na solidariedade e na revolta dos jovens detidos na situação muito difícil, precária e desumana, em que são mantidos por aqueles que agem em nome da sociedade, da lei e da religião ao exercerem a autoridade que lhes foi conferida de modo abusivo, prepotente e cruel.
Com desempenhos notáveis, incluindo os dos dois actores profissionais mais velhos, "King of Devil's Island" estabelece-se como uma referência histórica no cinema norueguês e no cinema europeu devido a uma realização rigorosa e exigente, que mantém constantemente presente o mar em volta da ilha, no que ele significa como fronteira inultrapassável e como convite a vencê-la - aquele mar é a liberdade. Quão precário ele é mostra-o o final de grande dramatismo, que culmina sobre blocos de gelo.
De facto, uma inequívoca e legítima energia rebelde contra um domínio opressor e injusto resulta das interpretações e da realização, numa bela homenagem a personagens verídicas e a situações verídicas. A elas como àqueles que aqui as recriaram para o cinema presto aqui a minha homenagem. Ao Arte o meu apreço pela sua actual programação de cinema.
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