"11 Flowers"/"Onze fleus"/"Wo 11", do chinês Xiaoshuai Wang (2011), cineasta de quem conhecíamos "Bicicleta de Pequim"/"Shiki sui de dan che" (2001) e "Sonhar com Shangai"/"Qing hong" (2005), é um filme inquieto e muito bom sobre o aproximar da adolescência na China em 1975, um ano antes do final da Revolução Cultural, na província de Ghizou. Com co-produção francesa, o filme assume referências culturais e cinematográficas francesas que lhe são essenciais.
Wang Han/Wenqing Liu é aluno de uma escola e com os seus amigos da mesma idade faz "trinta por uma linha" à maneira dos muito jovens protagonistas dos filmes iniciais de François Truffaut - "Os Putos"/"Les mistons", 1957, e "Os quatrocentos Golpes"/"Les quatre cents coups", 1959. O pai/Jingchun Wang, que trabalha longe, procura incutir-lhe o gosto pela pintura, enquanto da mãe/Ni Yan, operária, ele espera que lhe ofereça uma camisa nova, que lhe foi imposta na escola por ser o melhor aluno de ginástica.
Vestindo a sua camisa nova, branca, dificilmente conseguida, Wang Han vai continuar com os seus amigos as suas tropelias, próprias da idade e do meio, até perder esse novo símbolo para o homem em fuga/Ziyi Wang acusado da morte de um dirigente comunista, com o qual assume uma cumplicidade tácita, feita de meias palavras e de promessas - a revelação do crime tinha surgido com o aparecimento do cadáver do homem morto. A partir daqui tudo se complica entre os quatro amigos e entre eles e os mais velhos.
Nos tempos confusos que se seguem vai ser a conversa de Wang Han com o pai sobre pintura (o impressionismo do Século XIX) e a sua descoberta de que os homens agem agressivamente uns com os outros por causa das mulheres o que vai assinalar a parte final do filme, que termina com a execução fora de campo do assassino, depois de ter cumprido a sua promessa a Wang Han, e as palavras que no presente recordam o passado, que respondem ao início do filme, a preto e branco.
De uma grande subtileza e de um grande pudor, sem abandonar o ponto de vista do seu muito jovem protagonista "11 Flowers" tem uma fotografia exemplar (Jonsong Dong e Dong Jinsong) que para o final se demora em momentos impressionistas (o rio e as suas margens, a entrada da casa de família), sem nunca abandonar um certo tom evocativo que o facto de o filme se referir a memórias distantes justifica (Xiaoshuai Wang é também co-argumentista).
Na distância temporal somos assim levados a revisitar uma época difícil da sociedade chinesa através dos olhos, curiosos e descomprometidos, de um miúdo que não sabemos se terá colhido ensinamentos daquilo que então viveu - nós tiramo-los por via indirecta, ficcional, melhor do que tomaríamos por via directa, documental. Num meio fechado sobre si mesmo, a cenografia, os acontecimentos e as palavras falam eloquentemente sobre uma época e um meio, num filme que as contaminações culturais enriquecem como uma tomada de consciência das personagens e do seu autor.
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