O mais recente filme dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, "Dois Dias, Uma Noite"/"Deux jours, une nuit" (2014), é um filme muito actual sobre a crise do emprego, de que encena uma situação-limite mas verosímil, que leva até às suas últimas consequências.
Dependente de uma segunda votação dos outros trabalhadores da empresa em que trabalha para conservar o emprego, Sandra/Marion Cotillard, acompanhada e incitada pelo marido, Manu/Fabrizio Rongione, e pela amiga Juliette/Catherine Salée, passa o dia de domingo a contactar em suas casas os colegas que no dia seguinte vão votar para os tentar convencer a votarem pela sua permanência, renunciando, assim, ao prémio extra que lhes é prometido.
O propósito de Sadra, em luta contra o tempo, assemelha-se ao de Henry Fonda em "Doze Homens em Fúria"/"Twelve Angry Men", de Sidney Lumet (1957), ou seja, convencer a votarem em seu favor aqueles que numa primeira votação tinham votado contra ela. Mas, com grande acerto, os Dardenne, de novo autores do argumento, deixam cada um dos outros trabalhadores falar, expondo as suas razões que, em vários casos, se opõem às da protagonista.
Deste modo, um dilema moral do emprego e do desemprego assume os contornos de um retrato social justo e áspero sobre o mundo do trabalho, em que nem sempre todos têm a mesma opinião sobre questões concretas pois cada um transporta consigo o peso das suas razões pessoais, dos seus encargos, dos seus compromissos.
Com a austeridade a que já nos habituaram, em "Dois Dias, Uma Noite" os irmãos Dardenne continuam afastados dos traços formais dos seus primeiros filmes, embora com grande pertinência não larguem Sandra. Os seus interlocutores telefónicos não são mostrados, os ruídos fora de campo e a música apenas diegética estão muito bem utilizados, a fotografia, da responsabilidade do habitual Alan Marcoen, é sempre justa e os actores cumprem muito bem como sempre acontece nos filmes da dupla, com natural destaque para Marion Cotillard, excelente.
Além de muito actual, o mais recente filme dos Dardenne é um filme muito bom em termos cinematográficos, algo a que Jean-Pierre e Luc já nos habituaram, e inteiramente consistente com a sua obra anterior (sobre os Dardenne ver "Na ausência do pai", de 26 de Janeiro de 2013.)
Além de muito actual, o mais recente filme dos Dardenne é um filme muito bom em termos cinematográficos, algo a que Jean-Pierre e Luc já nos habituaram, e inteiramente consistente com a sua obra anterior (sobre os Dardenne ver "Na ausência do pai", de 26 de Janeiro de 2013.)
Sem comentários:
Enviar um comentário