O mais recente filme do americano Richard Linklater, "Boyhood: Momentos de Uma Vida"/"Boyhood" (2014), é um filme surpreendente pois acompanha o crescimento de uma criança, Mason/Ellar Coltrane, desde a escola primária até à sua entrada na Universidade em tempo real, isto é, filmando sempre com os mesmos actores à medida que o tempo vai passando por eles e eles vão passando pelo tempo.
Esta questão da passagem do tempo e pelo tempo torna indissociáveis personagens e actores, tanto os mais novos - além de Mason a sua irmã Samantha/Lorelei Linklater e os respectivos amigos - como os mais velhos - a mãe/Patricia Arquette e o pai/Ethan Hawk entre outros da sua idade ou mais velhos do que eles -, já que o filme foi rodado à medida que o tempo corria, desde os 5 aos 18 anos de Mason.
Esse simples facto impõe em "Boyhood: Momentos de Uma Vida" um lado de verdade documental, sem o recurso de envelhecer as personagens graças a actores mais velhos, como costuma acontecer no cinema. Trabalhando em tempo real ao longo do tempo de acordo com argumento da sua autoria, Richard Linklater consegue tirar o melhor partido do seu ponto de partida narrativa, pois acompanhar o crescimento de uma criança é uma experiência fascinante (especialmente se nos lembrarmos de quem nos viu crescer), que ele sabe captar e transmitir da melhor maneira, deixando o crescimento de uns e o envelhecimento de outros falarem por si próprios a linguagem do seu corpo, do seu tempo e lugar.
Sem constrangimentos formais, o cineasta leva aqui a bom termo um projecto que já animara em filmes anteriores (ver "A viagem no tempo", de 19 de Junho de 2013) de forma original e muito feliz. Tornado quase um filme de família, "Boyhood: Momentos de Uma Vida" percorre o contexto social e político da América durante o tempo em que decorre, e o retrato que traça da geração mais nova acompanha o que faz das gerações anteriores.
Esta é uma excelente ideia excelentemente concretizada e desenvolvida com recurso a todos os elementos físicos e imaginários envolvidos, sem perder tempo e sem deixar nada ao acaso - os sucessivos casamentos da mãe e do pai em paralelo com as consecutivas experiências de Mason, que o pai desajeitadamente tenta orientar, a experiência escolar de uns e a experiência social de todos -, com a inclusão muito pertinente alguns dos temas maiores, mais importantes e significativos, da sociedade e da vivência americana: a família, a escola, a política, a guerra, a religião, a imigração, o convívio, o divertimento comum, a cultura pop & rock.
A música e as referências musicais são muito boas e justas, por forma a explicitar um contexto que não é apenas social mas também cultural, e torna-se um verdadeiro prazer ver o tempo passar por todos e em todos, individualmente e relacionalmente, deixar as suas marcas. Porque não é preciso apanhar o momento perfeito mas deixá-lo apanhar-nos enquanto é tempo, este é sem dúvida um dos melhores filmes este ano estreados em Portugal.
Sem chamar especialmente a atenção sobre si, pelas melhores razões Richard Linklater, que é texano de nascimento e por isso filma admiravelmente o Texas, é hoje em dia um dos melhores cineastas americanos em actividade que, com a cumplicidade de todos os actores envolvidos, em "Boyhood: Momentos de Uma Vida" vai mais longe em termos de cinema, e de grande cinema, do que a televisão costuma ir termos de séries televisivas.
Esta é uma excelente ideia excelentemente concretizada e desenvolvida com recurso a todos os elementos físicos e imaginários envolvidos, sem perder tempo e sem deixar nada ao acaso - os sucessivos casamentos da mãe e do pai em paralelo com as consecutivas experiências de Mason, que o pai desajeitadamente tenta orientar, a experiência escolar de uns e a experiência social de todos -, com a inclusão muito pertinente alguns dos temas maiores, mais importantes e significativos, da sociedade e da vivência americana: a família, a escola, a política, a guerra, a religião, a imigração, o convívio, o divertimento comum, a cultura pop & rock.
A música e as referências musicais são muito boas e justas, por forma a explicitar um contexto que não é apenas social mas também cultural, e torna-se um verdadeiro prazer ver o tempo passar por todos e em todos, individualmente e relacionalmente, deixar as suas marcas. Porque não é preciso apanhar o momento perfeito mas deixá-lo apanhar-nos enquanto é tempo, este é sem dúvida um dos melhores filmes este ano estreados em Portugal.
Sem chamar especialmente a atenção sobre si, pelas melhores razões Richard Linklater, que é texano de nascimento e por isso filma admiravelmente o Texas, é hoje em dia um dos melhores cineastas americanos em actividade que, com a cumplicidade de todos os actores envolvidos, em "Boyhood: Momentos de Uma Vida" vai mais longe em termos de cinema, e de grande cinema, do que a televisão costuma ir termos de séries televisivas.
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