“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

domingo, 16 de novembro de 2014

Melhor não é possível

       Com argumento do realizador e Markus Schleizner baseado em "Histoire de ma vie", de Giacomo Casanova, e com música de árias das óperas de W. Amadeus Mozart com libreto de Lorenzo da Ponte, "Variações de Casanova"/"The Casanova Variations", do austríaco Michael Sturminger (2014), é um filme conseguido, heterodoxo e discutível.
                      Casanova Variations             
    Embora para a colagem a que procede o realizador invoque o facto de Casanova, Mozart e da Ponte terem sido contemporâneos e de Casanova ter conhecido os outros dois, esse simples facto apenas serve de base a um filme, um espectáculo cinematográfico conseguido, sem de modo algum dialogar com as suas fontes originais para além do meramente circunstancial: a recuperação de um espírito de época
    Apresentado em ante-estreia no Lisbon & Estoril Film Festival 2014, "Variações de Casanova" foi filmado em Portugal, nomeadamente no Teatro de São Carlos, em Lisboa, e funciona muito bem como espectáculo musical, originalmente encenado para teatro, quer pela maneira como está filmado quer pelas interpretações notáveis de John Malkovich, Veronica Ferres, a soprano Ana Maria Pinto e diversos outros actores internacionais e também portugueses - Maria João Bastos, Victoria Guerra, Maria João Luís. 
                    
    Com excelente guarda-roupa, belos cenários, uma notável fotografia da responsabilidade de Andre Szankowski e a soberba direcção musical do maestro Martin Haselböck, o filme impõe-se como um espectáculo agradável e divertido baseado numa mistura que produz o efeito pretendido nas colagens a que procede, e não se lhe pode hoje em dia exigir muito mais do que o esplendor e a beleza que exibe.
     Agora entendamo-nos: em termos de cinema e de diálogo com as óperas originais de Mozart, apesar de o dispositivo teatral funcionar bem e ser inteligentemente explorado para além do palco e de a ideia dos duplos (de Giacomo e Elisa) ser uma boa ideia, não se compara com o que Ingmar Bergman e Joseph Losey fizeram nos anos 70 do Século XX - respectivamente "A Flauta Mágica"/"Trollföjten" (1975) e "Don Giovanni" (1979).    
                      
     Mas talvez que a comparação nem sequer se justifique, pois este "Variações de Casanova" tem um outro objectivo específico, que atinge, como espectáculo musical cinematográfico e operático, está muito bem em termos fílmicos, dramáticos e líricos, e sobretudo funciona também como Variações de John Malkovich por causa de "Ligações Perigosas"/"Dangerous Liaisons", de Stephen Frears (1989), baseado em Choderlos de Laclos, o que deve ser levado em seu favor e impõe uma sua leitura de segundo grau.

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