O mais recente filme do inglês Peter Greenaway, "Que viva Eisenstein!"/"Eisenstein in Guanajuato" (2015), com a estética ágil, hábil e formalista do cineasta trata da viagem de Sergei M. Eisenstein (1898-1948) ao México onde, em 1931, rodou o célebre "Que Viva México!", que nunca pôde finalizar.
Mais centrado na vida pessoal do que no trabalho do cineasta, o filme de Peter Greenaway trata a experiência homossexual dele naquela ocasião, com o seu guia mexicano, que é tornada inteiramente compreensível pela inocência inexperiente de um homem então com 33 anos de idade. Interpretado por Elmer Bäck com entusiasmo e extroversão infantis, Eisenstein recebe aqui uma boa figuração cinematográfica numa época que se sucede aos seus grandes filmes dos anos 20, com excertos pertinentemente incluídos - apenas se estranha a ausência de "O Velho e o Novo" ou "A Linha Geral"/"Staroié I Novoie" ou "Generalya Lynea" (1926-1929).
Que tenha sido sob a acusação (!) de homossexualidade que um dos grandes génios da história do cinema se viu proibido de continuar a fazer filmes depois do seu regresso à União Soviética de então foi um dos maiores crimes do estalinismo. Um crime verdadeiramente odioso de gente tacanha, mesquinha e fanática, que prolongou o mau fado do seu filme mexicano, aqui aludido de passagem, e que contra outros cineastas soviéticos com outros pretextos se repetiu na mesma época.
Longe de minimizar o seu objecto, "Que viva Eisenstein!" engrandece-o ao olhar da história e sobretudo humaniza-o, o que é muito importante, ligando o sexo e a morte. Peter Greenaway continua assim a tratar da arte e da sua história de uma maneira feliz, a que o seu formalismo e esteticismo se ajustam bem, do que estamos, porém, sem notícias desde "A Ronda da Noite"/"The Nightwatching" (2007) neste miserável panorama da distribuição comercial portuguesa (sobre o cineasta ver "Outro filme histórico", de 30 de Abril de 2014).
Porque tem tudo a ver com a experiência narrada e descrita neste filme, veja-se de S.M. Eisenstein "Desenhos Secretos", de Jean-Claude Marcadé e Galia Ackerman (Lisboa: Quetzal, 2003).
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