“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

domingo, 22 de novembro de 2015

A loucura dos deuses


  A terminar o festival do documentário que esteve a apresentar, o Arte mostrou na sexta-feira passada "Sleepless in New York", do suíço  Christian Frei (2014), que conta com a participação da antropóloga  Helen Fisher. 
     Com o director de fotografia Peter Indergand, o realizador percorre a cidade em busca de gente que rompeu, terminou uma relação de amor, para ouvir de alguns, os que segue em especial (Michael Hariton, Rosey La Rouge, Alley Scott), os seus queixumes, desabafos e memórias. Com a antropóloga como guia, o filme passa pelo scanner que identifica no cérebro a mesma zona onde decorre o amor e a dor da separação, demonstrando que equivalem a uma forte dor de dentes, a maior dor que se conhece.  
                       
      O sentimento de desolação que se instala de personagem para personagem toma conta do filme, mau grado as intervenções animadoras e moralizadoras de Helen Fisher, que chega a definir por palavras o amor de que o filme trata. O que se torna mais fácil, porque mais claro, quando ele acaba.
     As imagens de New York são inéditas e belíssimas, no crepúsculo, no lusco-fusco, nos transportes, na rua, nos jardins - embora haja também a parada das sereias em Coney Island - e a análise dos movimentos de acasalamento no bar para solitários adianta alguma coisa mais sobre o assunto. Nada que não soubéssemos já mas que nos interessa a todos. 
                           
     "A loucura dos deuses" era como os gregos na Antiguidade consideravam o amor. Por mim, continuo com Jacques: "não há amor, mas apenas as provas desse amor" (in "Les Dames du Bois de Boulogne", de Robert Bresson, 1945), e chamem-me o que quiserem. Sobre o assunto é "Romance", de Helder Macedo, acabado de sair (Lisboa: Presença, 2015), que vivamente recomendo a quem ainda souber ler poesia portuguesa (sobre este escritor, ver "Era Nantes e amanhecia", de 30 de Abril de 2013, e "Estudos de referência", de 14 de Fevereiro de 2014). 
     Entre o amor do amor e o temor do amor, nunca estamos preparados para o seu início, para o seu desenrolar, para o seu termo. De resto, apesar da excelente música com base em Max Richter, Eleni Karaindrou e Giya Kancheli, e incluindo Bach, embora dando todas as respostas a todas as perguntas que formula "Sleepless in New York"de Christian Frei apenas se aproxima de um mistério que permanece intacto. 

2 comentários:

  1. Li e ouvi falar muito bem deste filme. A ver...

    Bons filmes,

    www.cinemaschallenge.com

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  2. O site da Helen Fisher pode ser encontardo aqui
    http://www.helenfisher.com/
    Carlos Melo Ferreira

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