A terminar o festival do documentário que esteve a apresentar, o Arte mostrou na sexta-feira passada "Sleepless in New York", do suíço Christian
Frei (2014), que conta com a participação da antropóloga Helen Fisher.
Com o director de fotografia Peter Indergand, o realizador percorre a cidade em busca de gente que rompeu, terminou uma relação de amor, para
ouvir de alguns, os que segue em especial (Michael Hariton, Rosey La Rouge, Alley Scott), os seus queixumes, desabafos e memórias. Com a antropóloga como guia, o
filme passa pelo scanner que identifica no cérebro a mesma zona onde
decorre o amor e a dor da separação, demonstrando que equivalem a uma forte
dor de dentes, a maior dor que se conhece.
O sentimento de desolação que se instala de personagem para personagem toma
conta do filme, mau grado as intervenções animadoras e moralizadoras de Helen
Fisher, que chega a definir por palavras o amor de que o filme
trata. O que se torna mais fácil, porque mais claro, quando ele acaba.
As imagens de New York são inéditas e belíssimas, no crepúsculo, no
lusco-fusco, nos transportes, na rua, nos jardins - embora haja também a parada das sereias em Coney Island - e a análise dos movimentos
de acasalamento no bar para solitários adianta alguma coisa mais sobre o
assunto. Nada que não soubéssemos já mas que nos interessa a todos.
"A loucura dos deuses" era como os gregos na Antiguidade consideravam o amor. Por mim, continuo com Jacques: "não
há amor, mas apenas as provas desse amor" (in "Les Dames du Bois de
Boulogne", de Robert Bresson, 1945), e chamem-me o que quiserem. Sobre o assunto é "Romance",
de Helder Macedo, acabado de sair (Lisboa: Presença, 2015), que vivamente recomendo a quem ainda souber ler poesia portuguesa (sobre este escritor, ver "Era Nantes e amanhecia", de 30 de Abril de 2013, e "Estudos de referência", de 14 de Fevereiro de 2014).
Entre o amor do amor e o temor do amor, nunca estamos preparados para o seu início, para o seu desenrolar, para o seu termo. De resto, apesar da excelente
música com base em Max Richter, Eleni Karaindrou e Giya Kancheli, e incluindo
Bach, embora dando todas as respostas a todas as perguntas que formula "Sleepless
in New York"de Christian Frei apenas se aproxima de um mistério que
permanece intacto.
Li e ouvi falar muito bem deste filme. A ver...
ResponderEliminarBons filmes,
www.cinemaschallenge.com
O site da Helen Fisher pode ser encontardo aqui
ResponderEliminarhttp://www.helenfisher.com/
Carlos Melo Ferreira