"In Jackson Heights" (2015), o mais recente filme do americano Frederick Wiseman, foi o único que consegui ver no DocLisboa 2015. Valeu a pena, como sempre acontece com os filmes do grande mestre do documentarismo. Menos "artístico" que os seus filmes anteriores, corre o risco de não interessar a distinta distribuição comercial portuguesa.
Voltando às suas raízes americanas, Wiseman filma um local especialmente complexo de New York, situado no bairro de Queens, trazido para o título. Pessoalmente, faz-me lembrar na obra do cineasta "Public Housing" (1997) ou "State Legislature" (2007) pela sua dispersão em volta do mesmo local, sempre à procura de onde o mais importante acontece.
Passando por todas as etnias de um local multicultural e multiétnico - muçulmanos, judeus, hispânicos, católicos, indianos, de passagem negros e chineses -, o filme centra-se em algumas questões especialmente importantes na actualidade, como a imigração, a situação do imobiliário, a integração, a discriminação, sexual e no trabalho, e para isso dá a palavra, ou ouve a palavra dos participantes em eventos públicos. Mas escuta e mostra também americanos brancos que recordam o passado recente ou a sua juventude, o que torna o quadro aqui traçado particularmente rico e esclarecedor.
Sempe na posição de observador não interveniente, Frederick Wiseman leva tão longe quanto possível a aproximação a uma realidade específica, mostrando-a de todos os ângulos sempre com o maior respeito. (Entre o público português da sessão a que assisti havia quem, tolo e parolo, risse, como se terá rido em momentos estratégicos dos filmes do cineasta que estrearam em Portugal, o que só percebo como necessidade de encontrar algum conforto e reconhecimento onde eles dificilmente se propiciam.)
Haverá sempre que ressalvar que Frederick Wiseman é o mais importante documentarista vivo e um dos maiores cineastas americanos da actualidade, o que este "In Jackson Heights" exuberantemente demonstra e confirma na sua muito longa duração, sempre em volta do mesmo local, um microcosmos de New York e da América.
O cuidado com que ele escolhe o que filmar, o tempo que demora com cada assunto específico sem receio de manter o plano fixo muito longo de quem fala, a estarrecedora arte da montagem de que volta a dar as melhores provas fazem deste seu mais recente filme um dos pontos culminantes de uma obra já muito longa e sempre a abrir para o presente e para o cinema.
O cuidado com que ele escolhe o que filmar, o tempo que demora com cada assunto específico sem receio de manter o plano fixo muito longo de quem fala, a estarrecedora arte da montagem de que volta a dar as melhores provas fazem deste seu mais recente filme um dos pontos culminantes de uma obra já muito longa e sempre a abrir para o presente e para o cinema.
Sou claramente a favor da distribuição comercial deste filme como do anterior "At Berkeley" (2013) em Portugal, para colocar ao alcance de todos o melhor do documentário contemporâneo, até para que se possa perceber que algum do melhor cinema continua a ser feito por americanos em todas as áreas, mesmo se não necessariamente em Hollywood. E conhecer os filmes de Frederick Wiseman permite conhecer a América por dentro, nas suas diferentes facetas, e algo mais sobre o resto do mundo, da vida e da arte.
(Sobre o cineasta ver "Sobre arte", de 31 de Maio de 2015).
(Sobre o cineasta ver "Sobre arte", de 31 de Maio de 2015).
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