O mais recente e mal amado filme de Terrence Malick, "Cavaleiro de Copas"/"Knight of Cups" (2015), com um argumentista, Rick/Christian Bale, em deriva interior e exterior, é o seu muito evidente "Oito e Meio"/"Otto e mezzo", a que ele no seu nível tem pleno direito e de que sai muito bem.
Digo isto logo no início para que se perceba que este é um filme sobre o cinema e sobre quem o faz, um filme sério e inventivo que coloca o seu protagonista perante a angústia de ter de fazer - escrever para mais um filme no meio do cinemapor definição, Hollywood.
Digo isto logo no início para que se perceba que este é um filme sobre o cinema e sobre quem o faz, um filme sério e inventivo que coloca o seu protagonista perante a angústia de ter de fazer - escrever para mais um filme no meio do cinemapor definição, Hollywood.
Com uma polifonia de vozes que vem dos seus filmes anteriores, "Cavaleiro de Copas" singulariza-se pelas transições entre diálogos e monólogos interiores a partir do protagonista e convergindo para ele segundo uma estrutura de tarot. Ora como isso se insere numa construção visual e auditiva - uma mistura audiovisual - muito boa, em que os sons do plano seguinte se encavalitam sobre o anterior e em que as vozes se sucedem sem por vezes estar perfeitamente definido a quem pertencem, numa disjunção do visual e do sonoro em que o corte se torna interstício, como escreve Deleuze sobre o cinema moderno, nomeadamente sobre Godard, tudo faz perfeitamente sentido em terreno muito sólido.
Com excelentes actrizes que o cineasta sabe filmar, nomeadamente Cate Blanchett como Nancy e Natalie Portman como Elizabeth - como uma Monica Vitti e uma Jeanne Moreau algures num "Blow Up" com fotógrafos avulsos mas sem mistério exterior -, e um Christian Bale reflexivo e reflector, o filme cria o seu tom rememorativo e interiorizado de maneira plenamente convincente e conseguida.
Com excelentes actrizes que o cineasta sabe filmar, nomeadamente Cate Blanchett como Nancy e Natalie Portman como Elizabeth - como uma Monica Vitti e uma Jeanne Moreau algures num "Blow Up" com fotógrafos avulsos mas sem mistério exterior -, e um Christian Bale reflexivo e reflector, o filme cria o seu tom rememorativo e interiorizado de maneira plenamente convincente e conseguida.
Não está, como nunca esteve em causa que Terrence Malick sabe filmar. O que volta muito pertinentemente a acontecer é a construção circular, que acaba com um "começa" e nos devolve inteiro um Rick atormentado que, porém, na sua solidão e nas suas dúvidas, transporta consigo a resposta a todas as suas perguntas - do estúdio à cidade, das festas à auto-estrada, de Los Angeles a Las Vegas, do mar ao deserto, o pai Joseph/Brian Dennehy e o padre estão especialmente bem vistos.
O que a meu ver agora importa é que o cineasta passe ao capítulo seguinte da sua obra, que não é extensa mas é muito relevante, sem se deixar enredar pelo narcisismo como aconteceu a Takeshi Kitano no mesmo transe, no seu caso sem transição. Se assim for, por mim compreendo e aplaudo, tanto mais quanto a fotografia de Emmanuel Lubezki é muito boa, muito bem replicada pela música de Hanan Townshend. E quanto mais incompreendido mais eu gosto deste "Cavaleiro de Copas" pelas suas qualidades intrínsecas e pela sua sinceridade.
É muito poético? Pois é, é-o mesmo por definição, na linha dos filmes anteriores do cineasta, e é talvez disso que vocês não gostam, nem com a sua presumível imputação a um "cinema de poesia" pasoliniano, ainda para mais partindo de uma caverna para chegar a um deserto montanhoso.
(Sobre Terrence Malick, ver "Poética de Terrence Malick", de 5 de Fevereiro de 2012, "Começar de novo", de 12 de Agosto de 2012, e "Um autor americano", de 30 de Maio de 2013.)
É muito poético? Pois é, é-o mesmo por definição, na linha dos filmes anteriores do cineasta, e é talvez disso que vocês não gostam, nem com a sua presumível imputação a um "cinema de poesia" pasoliniano, ainda para mais partindo de uma caverna para chegar a um deserto montanhoso.
(Sobre Terrence Malick, ver "Poética de Terrence Malick", de 5 de Fevereiro de 2012, "Começar de novo", de 12 de Agosto de 2012, e "Um autor americano", de 30 de Maio de 2013.)
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