“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

terça-feira, 15 de março de 2016

Monstro Sagrado

     Foi de novo numa livraria que recebi a notícia fresca da morte do Nicolau Breyner (1940-2016). À saída da livraria, na rua movimentada e ruidosa que desci tinha-se feito o silêncio. Passei da negação à incredulidade, até que um ecrã de televisão me convenceu.
    Ele foi excelente em todas as áreas que frequentou, teatro, cinema, televisão, um homem verdadeiramente transversal que em tudo o que fez colocou o melhor de si próprio e de nós próprios.
     Aqui preciso de me explicar. No actor prodigioso que ele foi, a maioria guardará o rosto, o sorriso que lhe iluminava os olhos. Eu guardo o corpo que ele dava às personagens que interpretava, que filmado de qualquer ângulo, em qualquer escala, rosto incluído lhes conferia uma humanidade eminentemente reconhecível: da personagem e sua. Assim ele enriqueceu e iluminou tudo aquilo que fez, em que participou.
                    
     Como muito poucos - Vasco Santana, Amália - aliou em Portugal a excelência com a popularidade: toda a gente o conhecia e admirava. Além do que foi, dizem os que o conheceram de perto, um ser humano de excepção, de uma simplicidade e de uma bondade hoje em dia raras, por isso mesmo tanto mais estimáveis
       A morte ataca sempre onde mais nos dói. Que tenha morrido durante o sono foi um bem que ele mereceu. Todos nos sentimos amputados e empobrecidos com a sua partida, Nicolau Breyner. Aqui ficam os meus muito profundos sentimentos para o cineasta que melhor o compreendeu e aproveitou em vários filmes, e que inclusivamente antecipou a sua morte: um abraço, António Pedro Vasconcelos (ver "Lugar incomum, de 6 de Junho de 2015).
     Não esqueçam o Nico, em especial nesta sua e nossa hora. E passem a palavra para o futuro. 

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