A terceira longa-metragem do russo Andrey Zvyagintsev, "Elena" (2011), é um filme muito interessante e bem construído sobre uma situação e personagens de melodrama que ele, com o apoio de grandes actores consegue erguer à altura de um grande filme humano e filosófico sobre a vida e a morte, a relação entre os sexos e a relação entre gerações, pondo de lado fantasias humanistas e melodramáticas para em volta da protagonista, que dá o nome ao título, fazer desenharem-se e desenvolverem-se as teias da vida, da herança e do vil metal.
Há um casal de sexagenários, Vladimir e Elena, ele com uma filha com quem não se dá, ela com um filho e dois netos que precisam de um auxílio económico que só Vladimir lhes pode proporcionar - e acaba por, depois de ter morrido, permitir graças ao movimento oportuno de quem era a única a poder fazê-lo. Esta é, assim, uma história minimal, pela qual nada se daria não fosse a excelente realização e a superior interpretação, que anima as personagens de maneira a retirá-las do mero estereótipo no interior de um filme que visual e sonoramente - a soberba música de Philip Glass muito bem utilizada - cria um espaço crepuscular, entre luz e sombra, entre vida e morte, que é o espaço delas, o espaço justo daquele drama em que tudo se desenrola segundo uma lógica imparável.
Estabelecendo muito bem, em termos espaciais, a distinção entre a casa do casal e a casa do filho dela, e dando em termos visuais - o espelho em que Elena se reflecte - o drama da protagonista, bem como o local neutro em que esta se encontra com a enteada, o filme vai-se impondo a pouco e pouco, vai impondo a sua própria lógica interna numa linguagem cinematográfica depurada, deixando pelo menos um retrato feminino sólido e convincente, sem concessões a uma sentimentalidade fácil mas evitando também um moralismo tranquilizador.
Estabelecendo muito bem, em termos espaciais, a distinção entre a casa do casal e a casa do filho dela, e dando em termos visuais - o espelho em que Elena se reflecte - o drama da protagonista, bem como o local neutro em que esta se encontra com a enteada, o filme vai-se impondo a pouco e pouco, vai impondo a sua própria lógica interna numa linguagem cinematográfica depurada, deixando pelo menos um retrato feminino sólido e convincente, sem concessões a uma sentimentalidade fácil mas evitando também um moralismo tranquilizador.
A vida é difícil, é complicada para todos, as soluções mais evidentes nem sempre têm tempo para se imporem - o testamento de Vladimir -, a morte, que para quem morre é um mal, para quem fica pode ser aproveitada na justa medida da proximidade e da premência das necessidades, e desta forma simples "Elena" impõe a sua própria moralidade inquieta, expressa nas imagens finais, elípticas, que jogam com o início sobre os espaços vazios, de uma grande beleza. Este é, pois, um filme que dá muito mais do que aquilo que promete, indo muito além das suas premissas narrativas com um tom convincente de crónica do quotidiano, com actores que assumem com brio as personagens que lhes cabem e credibilizam, com destaque para Nadezhda Markina como Elena e Andrey Smirnov como Vladimir, numa fábula moralista muito bem construída em temos fílmicos e que funciona muito bem em termos humanos - a descoberta de Vladimir morto está muito bem dada, na sequência da cena na piscina, e o tratamento do espaço é sempre muito bom, jogando com as formas da cenografia, com o vazio e o preenchido.
Num filme em que nada surge como exagerado, antes tudo é exacto e preciso, impondo-se por si próprio graças ao domínio e à fluência da linguagem cinematográfica utilizada por Andrey Zvyagintsev, talvez só o propósito demasiado explícito de "Elena" surja como perturbador da sua inequívoca beleza e perfeição.
Num filme em que nada surge como exagerado, antes tudo é exacto e preciso, impondo-se por si próprio graças ao domínio e à fluência da linguagem cinematográfica utilizada por Andrey Zvyagintsev, talvez só o propósito demasiado explícito de "Elena" surja como perturbador da sua inequívoca beleza e perfeição.
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